A União Europeia “vê com agrado” a possibilidade de o Brasil seguir a abordagem em relação à segurança no 5G que o bloco econômico divulgou nesta semana. Segundo o ministro-conselheiro de economia, indústria, mercado digital e mobilidade da delegação da União Europeia no Brasil, Carlos Oliveira, a “caixa de ferramentas” (ToolBox) para a tecnologia móvel foi um dos assuntos abordados no diálogo UE-Brasil, que aconteceu em Bruxelas no final de novembro e que contou com a presença de membros do governo brasileiro. As medidas europeias visam endereçar as preocupações com a Huawei, limitando a ação da fornecedora chinesa em áreas críticas de rede.

Em comunicação com jornalistas, Oliveira afirmou que a UE tem buscado “trocar impressões” com o País sobre os assuntos, e que “vê com agrado a perspectiva de uma convergência de pontos de vista sobre a problemática da segurança das redes 5G”. As medidas da União Europeia são exigências para os estados-membros, mas especificidades devem ser definidas pelos próprios países.

O representante da UE no Brasil diz que o ToolBox é resultado de um “trabalho profundo” desenvolvido pela Comissão Europeia em conjunto com a Agência Europeia para a Segurança das Redes e da Informação (ENISA), seguindo a metodologia de comunicação da entidade e a avaliação de risco baseada em relatório publicado em outubro do ano passado. “Este é um elemento estruturante da estratégia da União Europeia para o 5G e da sua política de cibersegurança”, afirma.

A proposta da União Europeia em relação à segurança na infraestrutura do 5G segue de perto o posicionamento do Reino Unido, também anunciado nesta semana, embora a nação já não faça mais parte do bloco econômico. Sob forte pressão dos Estados Unidos, o governo britânico decidiu por limitar fornecedoras “de risco” como as chinesas Huawei e ZTE à rede de acesso, mas não no core de rede. Empresas como a BT, que utilizam equipamentos da Huawei, não ficaram satisfeitas e avaliam impactos de pelo menos US$ 660 milhões em cinco anos.

Porém, a própria companhia chinesa emitiu nesta sexta-feira, 31, comunicado “exaltando” a decisão da UE, afirmando que a abordagem é “não tendenciosa e baseada em fatos”.

Vale lembrar que em maio do ano passado, as operadoras brasileiras já demonstraram desagrado com uma eventual restrição à Huawei no País. O CEO da Claro Brasil, José Félix, chegou a dizer que tal decisão do governo neste sentido criaria “um verdadeiro inferno” para o setor. A Oi, na época sob comando de Eurico Teles, disse não acreditar que o governo tomaria uma “decisão política sem considerar investimentos já feitos com a tecnologia da Huawei”.

Na ocasião do diálogo da economia digital UE-Brasil em novembro, foi reafirmada a importância da parceria de 12 anos entre o bloco e o País, quando foram dedicados 50 milhões de euros para apoiar 20 projetos de inovação e pesquisa envolvendo mais de 200 organizações de ambos os lados. “A UE saúda a oferta do governo brasileiro de apoiar a participação do Brasil nas futuras chamadas do Horizon 2020 em relação ao 5G (e além), IoT e AI”, disse a entidade na época. Isso envolveu participação do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, mas também visando a realização do Horizon Europe, explorando mecanismos de parcerias público-privadas para projetos orientados para missões. Entre os presentes na delegação brasileira estavam o secretário de empreendedorismo e inovação do MCTIC, Paulo Alvim; o secretário de telecomunicações do MCTIC, Victor Menezes, do MCTIC; e o superintendente de competição da Anatel, Abraão Balbino.