Smart cities

Especialistas de Internet das Coisas e políticas públicas em evento online da FGV nesta quinta-feira, 31

Mesmo com o tema de cidades inteligentes sendo discutido há mais de uma década, os especialistas do setor que participaram de evento da FGV nesta quinta-feira, 31, apontaram como os grandes entraves para o desenvolvimento desta vertical são a falta de conectividade, de mão de obra qualificada e de maturidade do uso da tecnologia na gestão pública.

Para Rodrigo Uchoa, diretor de digitalização e desenvolvimento de negócios da Cisco Brasil, smart cities é debatido há 15 anos, mas que trava em temas como retorno sob investimento, fragmentação das necessidades e a oferta de conectividade de qualidade para aplicações.

“Hoje sabemos do que se trata uma cidade inteligente. Discutimos modelos e arranjos regulatórios, jurídicos e as PPPs são realidade. Falamos de piloto, mas não vemos grandes projetos. Implementar uma cidade inteligente e atender o cidadão não é possível porque não conseguimos ter infraestrutura de conectividade segura. E toda vez que passávamos do projeto de construção, o principal desafio era viabilizar a estrutura de conectividade. Mas isso era 15 anos atrás, hoje temos outro cenário com 5G e fibra ótica. Mas a estrutura de conectividade para cidades inteligentes, não é trivial e não é barata. Depende de capital e da operação da infraestrutura”, afirmou Uchoa.

“Toda vez que chegávamos no volume de investimento, éramos barrados no ROI. E tinha muita fragmentação. Aqui nasce o problema, você não pode ter estrutura duplicada ou com ineficiência operacional nas cidades. Ou paramos e montamos projetos com toda a demanda necessária e agregada, sendo tratados com investimento, ou não daremos o salto em cidades inteligentes. Muitos projetos com infra de telecomunicação pública também foram inviabilizados, porque o custo era bem alto, algo que acontece principalmente quando a demanda é alta”, completou.

Em sua visão, o diretor da Cisco diz que “falta orquestração, cooperação e projeto integrado de infraestrutura de conectividade” com foco nas demandas e necessidades específicas em cidades inteligentes.

Qualificação

Em contrapartida, Eliana Cardoso Emediato de Azambuja, coordenadora-geral de transformação digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) indica que o principal problema é a falta de mão de obra qualificada. Azambuja explicou que 80% das 12 mil contribuições para a Estratégia Brasileira de Transformação Digital indicavam como grande preocupação a questão de capacitar pessoas para saúde, cidades e educação em novas tecnologias, como inteligência artificial.

A Carta Brasileira para Cidades (Inteligentes) de 2020 mostra que a conectividade não é o único fator da cidade inteligente. Tem a educação, a conectividade, a saúde. Há uma série de fatores que levam a cidade a ser inteligente. Na nossa estratégia brasileira de transformação digital, está tudo junto. Temos câmaras de saúde, turismo, agro, cidades e indústria. A conectividade é necessária tanto no agro, quanto na cidade quanto no turismo. Estamos no processo de revisão da estratégia de transformação digital, discutindo com várias instituições desde agosto (de 2021), em todas as câmaras”, disse a coordenadora do MCTI.

“Anteontem, finalizamos a primeira versão da nova estratégia brasileira de transformação digital. Em todas essas discussões com especialistas, a conectividade não foi o principal tema, mas, sim, a capacitação de pessoas. 80% das demandas que tivemos são para termos pessoas com capacidade para trabalhar com novas tecnologias. Recebemos mais de 12 mil contribuições e a questão de capacitar pessoas para saúde, cidades e educação, é uma grande preocupação”, disse. “Nós criamos nessas câmaras grupos de capacitação de pessoas. Temos que pensar em pessoas para trabalhar em todo o processo”, completou.

Estrutura

smart cities

“As cidades precisam se encontrar nesse quadro para entender a necessidade de seus munícipes”, diz Erico Przeybilovicz, pesquisadora da FGV (gráfico: Mobile Time)

Por sua vez, Erico Przeybilovicz, pesquisador do centro de estudos em administração pública e governo da EAESP FGV e membro da Câmara das Cidades 4.0, afirmou que o problema ainda pode ser dividido em duas partes: as 300 cidades com mais de 100 mil habitantes que podem suportar tecnologias de Internet das Coisas; e a maioria dos mais de 5 mil municípios brasileiros que não têm infraestrutura básica de tecnologia.

Em resumo, Przeybilovicz divide em duas partes o problema de smart cities, como mostra o gráfico acima:

– O nível do topo com a tecnologia de IoT, com sensores que dependem de conectividade de qualidade, e o outro lado com gestão tradicional e dados para tomar decisões sobre a cidade;

– e abaixo, estão  as cidades maduras ou iniciantes.

“Os 300 municípios com mais de 100 mil habitantes estão mais preparados para políticas mais avançadas de conectividade. Mas temos mais de 5 mil municípios que estão abaixo desse corte. São outras questões para outras cidades. Elas não precisarão de infraestrutura mais robusta. Às vezes é algo mais tradicional, como um sistema de gestão tributária”, explicou o pesquisador.