O Clubhouse (Android, iOS) finalmente chegou aos usuários do sistema operacional do Google no último dia 9 de maio. Como não tenho dispositivo iOS dos mais novos, fiquei nos últimos meses igual criança que não foi convidada para a festa do amiguinho do colégio: só olhando e ouvindo todo mundo comentando o quão legal é a plataforma. Agora na versão para Android, finalmente pude avaliar o aplicativo.

Ao contrário do que muitos dizem, o Clubhouse não está em queda e o seu boom não passou. De acordo com dado exclusivo obtido pelo Mobile Time junto à App Annie, o aplicativo segue em forte crescimento e possui globalmente 15 milhões de downloads apenas no iOS, sendo que 4 milhões foram computados entre 1º de março e 18 de maio.

Nos Estados Unidos é onde se fez mais instalações, 3,8 milhões, seguido pelo Japão, com 1,9 milhão de downloads. O Brasil aparece em quarto, com 657 mil. Ou seja, ainda há muito apetite pelo app.

Uso

A plataforma é simples de usar. Após receber a aprovação por algum amigo, o usuário pode seguir pessoas de sua lista de contatos que estão na plataforma, pesquisar pessoas e clubes (temas). Assim, quando tiver uma sala disponível com temas ou pessoas que são seguidas pelo usuário, essa sala aparece na tela principal.

Além disso, o Clubhouse mostra salas de destaque que não estão relacionadas aos temas que segue, mas que são importantes. Um exemplo: um encontro entre palestinos e israelenses para os dois lados conhecerem suas dificuldades ante a escalada da violência entre Israel e o Hamas.

Outro diferencial do aplicativo é a agenda de eventos. Algo que foi muito bem explorado por Facebook e Orkut no passado, mas perdeu força. Assim como um calendário, o usuário vê os próximos temas pertinentes no dia vigente ou próximo dia, e pode agendar salas que criará.

Um exemplo que estou ouvindo enquanto escrevo esse review é a sala de ética e inteligência artificial que o InovaBra realiza nesta quarta-feira, 26. Ainda assim, como em qualquer plataforma, o importante no começo é utilizar bem a busca, selecionar os temas com prudência e saber quem deve seguir, pois é muito fácil cair em balela.

Lógico, ainda há muito para avançar dentro das conversas em sala, como inclusão de imagens, melhor filtragem da plataforma, melhoria do papel da comunidade e o mais importante: definir o modelo de negócios. Será baseado em anúncios publicitários e gratuita, como o Facebook; ou vai ter uma assinatura, como o Spotify?

Papel

Substituto do podcast? Dos serviços de streaming de áudio? Da rádio? Nova rede social veio para desbancar Facebook e Twitter? Basta uma nova plataforma chegar no mercado e esses tipos de comentários aparecem com frequência. Dizer qualquer coisa desse gênero me lembra as previsões de charlatões que se passam por mediúnicos.

Assim como o streaming não substituiu o cinema, a TV, o teatro, e o podcast não substituiu o rádio, o Clubhouse não substituirá outras mídias.

Agora, ao contrário de muitos que veem a plataforma de áudio como algo extremamente revolucionário, não é bem assim. Clubhouse é mais parecido com Zoom sem vídeo do que um podcast/rádio ao vivo. E agora falarei a principal diferença e pode ser vista como polêmica: Clubhouse ainda é monólogo, não diálogo.

Veja, a plataforma permite que apenas uma pessoa fale por vez. Pode ter várias pessoas por sala, mas só uma fala por vez. Isto é uma barreira de comunicação, não tem a fluidez de uma conversa aberta. O Clubhouse é muito mais parecido com uma conversa via walkie-talkie ou PTT (para quem teve o celular da Nextel) com várias pessoas. Ou seja, o espaço ideal para o “palestrinha”.

Neste cenário, o Discord é muito mais fluido para esse tipo de conversa com múltiplas pessoas e tem ferramentas de interação bem legais, como os bots para discotecar. Mas não é tão fácil de mexer como o Clubhouse. Em todo caso, a ameaça do Clubhouse é muito mais para redes sociais e vice-versa. Basta ver o apetite que o Twitter foi ao mercado com o Spaces, pois o áudio intriga e engaja os usuários com muita facilidade.

Importante dizer, além desta análise, recentemente publicamos uma série de matérias sobre o tema: