A Telefónica mira se tornar uma operadora europeia de referência global, mas sem perder a rentabilidade de vista. É o que propõe Marc Murtra, chairman e CEO da operadora, ao apresentar o plano financeiro e estratégico da operadora até 2030, que inclui ser uma operadora líder com uma possível consolidação nos quatro mercados em que atua: Alemanha, Espanha, Reino Unido e Brasil.
Para Murtra, a consolidação na Europa é inevitável, uma vez que a fragmentação resulta em baixo crescimento em escala e ineficiência. O executivo compara o mercado europeu, que possui 18 operadoras e apenas 2% de penetração do 5G standalone, ante o da China, que possui três operadoras e 77% de 5G SA, e o dos EUA, também com três telcos e 24% de penetração do 5G SA.
“A consolidação tem quatro características: não ocorre na mesma velocidade que outras mudanças; acontece em posições opostas em termos de interesse; a mídia quer saber como estão as negociações e as oportunidades; e como estão se saindo nossos concorrentes e outros mercados”, listou, ao lembrar de relatórios que favorecem esse movimento na Europa, como o Draghi Report.
Durante a apresentação, Murtra não informou se a consolidação envolve M&A para o Brasil. Mas em um dos slides (imagem acima) com o Brasil marcado, a operadora reforça que há ‘oportunidades de sinergias para consolidação em potencial nas operações lideradas pela Telefónica em seus principais mercados’.
Vale dizer que essa estratégia de consolidação (por M&A ou até parcerias) está separada do plano estratégico quinquenal da Telefónica, pois depende de três condições: sinergias de custos e investimentos; condição de compra adequada e medidas; e remédios regulatórios viáveis.
Ainda assim, o CEO reforçou que os processos de consolidação nos quatro principais mercados em que atua (inclusive o Brasil) podem gerar sinergias entre 18 e 22 bilhões de euros.
Telefónica até 2030

Da esq. para dir.: Emilio Gayo, COO da Telefónica; Marc Murtra, CEO e chairman da Telefónica; Laura Abasolo, CFCO da Telefónica (reprodução de vídeo/Telefónica)
Batizado como ‘transform and grow’ (transformar e crescer, na tradução livre do inglês para o português), o plano estratégico da Telefónica foi desenvolvido nos últimos seis meses. De acordo com Murtra, foca especificamente na adoção da holding em seus quatro principais mercados (Alemanha, Brasil, Espanha e Reino Unido) e, a partir da convergência entre conectividade fixa, móvel e conteúdos, a companhia traça seis pilares de sucesso para desenvolver nos próximos anos:
- Levar a melhor experiência ao cliente;
- Ampliar a oferta de serviços B2C, como mais ofertas de móvel e conteúdos, assim como expandir negócios lucrativos, como nas áreas de finanças e saúde;
- Escalar o negócio B2B;
- Desenvolver as capacidades tecnológicas;
- Simplificar a operação, como a saída total de suas operações em países da América Hispânica;
- Desenvolver talentos.
Com essa estratégia, a companhia prevê até 2,5% de crescimento e fluxo de caixa de 5% neste período. Prevê ainda uma economia de 212 milhões de euros em Totex (Opex mais capex) em 2028 e de 1,5 bilhão de euros em Opex recorrente e 500 milhões de euros em Capex recorrente entre 2025 e 2028, assim com mais 300 milhões de euros de economias pontuais que não serão replicadas.
Flexibilidade financeira

Marc Murtra, Chairman e CEO da Telefónica (reprodução de vídeo/Telefónica)
A partir desta economia, Murtra espera ter uma estrutura financeira com outros quatro pilares:
- Fluxo de caixa livre, crescente e com menor risco;
- Garantir grau de investimento como “prioridade absoluta” e, com isso, se distanciar dos limites de não-investimento;
- Pagamento de dividendos vinculado ao fluxo de caixa livre;
- A dívida líquida não pode ultrapassar 2,5 vezes o EBITDA até 2028.
O CEO afirmou que apesar da estratégia de redução de custos, a alocação de capitais vai focar investimentos necessários por meio de Capex e Opex para garantir o grau de investimento e levar o resultado via dividendos, ao mesmo tempo que garante maior flexibilidade financeira.
“O plano está totalmente financiado e estamos cada vez mais distantes de um grau de investimento negativo. Essa é uma parte importante da conclusão da nossa estratégia de alocação de capital. Vamos investir em Capex e Opex. E se alguém não entendeu, se vocês têm alguma dúvida: não vamos perder nosso grau de investimento”, disse Murtra, ao ser questionado se havia contradição entre investir em Capex e Opex, ao mesmo tempo que inclui redução de custos em ambos.
“A Europa não conseguirá recuperar sua posição em tecnologia se não tivermos empresas tecnológicas eficientes. Precisamos ser extraordinariamente eficientes e eficazes”, completou, ao dar exemplo de investimentos que precisam ser feitos no continente.
