Cada vez mais presentes e com um impacto bastante importante na matriz de despesas da população com 60 anos ou mais, o smartphone ganhou corações, mentes e atenção da geração que conheceu e usou a telefonia através de um telefone fixo de louça e com disco no lugar de teclas. Um movimento natural diante do esforço e do caminho natural da digitalização da maior quantidade possível de relações. A turma que assistia TV preto e branco está, na sua velocidade e superando a falta de cuidado e adequação das interfaces, interagindo, consumindo, se informando e criticando através das telas pequenas. Por isso não canso de repetir os mantras: mobile first e a internet dos 60+ é uma tela de 6,5 polegadas. Marcas que tiverem este cuidado e olhar terão mais êxito e vendas.

Ainda vemos propaganda de smartphones se apresentando como “para o idoso”, “feito para os idosos” e assim por diante. Quero alertar que já estamos em outra fase. Até cinco anos atrás este apelo até poderia ter mais resultado, mas agora não mais.

Ao contrário de boa parte dos países do Hemisfério Norte, onde o fenômeno do envelhecimento iniciou há mais tempo e possui uma população madura mais escolarizada e mais consciente, aqui no Brasil mesmo com o boom grisalho e a ampliação da expectativa de sobrevida (não é a de vida) após os 60, 65, 70, 75, 80, 85, 90, e assim por diante, uma pessoa de 70 anos não se sente velha. Um estudo da SeniorLab identificou que as pessoas se sentem em média 10 anos mais jovens do que está impresso no RG ou na CNH. Um estudo de quase uma década atrás tinha chegado a uma percepção de 8 anos mais jovem, ou seja: esta é uma tendência que não se sabe até onde irá ainda. O fato é que para o consumidor sênior, o idoso é o outro.

Quando um 60+ adquire um smartphone e por algum motivo procura um curso ou orientação para uso de ferramentas ou aplicativos específicos, tem sido raro ver o aluno com um “smartphone para idoso”, apesar dos sistemas operacionais serem bem concebidos e de interface amigável. Eles estão indo com equipamentos idênticos aos utilizados pelos seus netos e de marcas conhecidas. Neste ponto voltamos a cruzar a intenção de uso da tecnologia com o desconforto do simbolismo que o equipamento “para idoso” tem para eles. Sei que parece não fazer sentido, mas nós humanos somos assim mesmo. Gosto de usar a seguinte ilustração: é como se pendurassem um crachá escrito “sou velho”.

Com uma população ávida pela igualdade tecnológica, com disposição de aprender, com dinheiro para comprar, com tempo para pesquisar e ciente de que poderá fazer coisas que ainda não aprendeu se tiver as condições, vejo uma oportunidade gigante nos devices atuais. Não é necessário, por enquanto, desenvolver novas funcionalidades, alterar o design ou novos sistemas operacionais. Boa parte dos modelos atuais dispõem de configurações desconhecidas pelos próprios responsáveis por vendê-las no PDV e que, se exploradas da maneira certa, na linguagem adequada, sem infantilização ou preconceitos, criariam um match insuperável entre operadora, fabricante e cliente. Na minha experiência de 10 anos de SeniorLab exclusivamente no segmento 60+, os cases mais interessantes e de êxito estavam dentro dos clientes que me chamavam para desenvolver novos produtos ou unidades de negócios. Bastava ver, entender, conectar e apresentar ao mercado. Simples e complexo assim.