O desenvolvimento de novas tecnologias que aceleram a transformação digital como 5G, Internet das Coisas (IoT), computação em nuvem, edge computing e inteligência artificial, são temas que mudarão a sociedade, como disse Eduardo Navarro, presidente da Vivo, nesta quarta-feira, 3. Em sua visão, a digitalização deve entrar na pauta do próximo governo que começa em janeiro, como parte de uma agenda de longo prazo.

“A transformação digital mudará a sociedade, mas precisa entrar na agenda pública. Pode ter impacto similar ao da reforma da previdência”, disse Navarro. “A reforma da previdência é importante para o mundo tecnológico e analógico, no curto prazo. Sem isso nenhuma agenda avançará. Mas, no longo prazo, nós precisamos discutir transformação digital”.

Quando questionado por Mobile Time se a atualização da Lei Geral de Telecomunicações (PLC 79) seria um dos motores deste avanço, o executivo explicou que a estratégia do Brasil em transformação digital precisa ser “um conjunto de iniciativas”. Contudo, ele acredita que o PLC 79 “está maduro” e pode contribuir.

Durante passagem pelo evento Lide Next – Inteligência Artificial, em São Paulo, o executivo da operadora afirmou que a transformação digital “é uma mudança de vida que não está atrelada às áreas de tecnologia das empresas” e que é uma pauta que está nos conselhos das companhias, não só com os CTOs e CIOs.

Também presente no seminário, a presidente da Microsoft, Paula Bellizia, enfatizou que a responsabilidade não é só do governo, mas também do setor privado. Para ela, o empreendedorismo terá grande papel na sociedade como criador de empregos, e não apenas as grandes empresas. “A tecnologia sempre estará dois ou três passos à frente. E o País e sua regulação terão que vir atrás”, ressalta a executiva.

A participação das companhias neste ecossistema e na fomentação do empreendedorismo também foram defendidas por Navarro, dando o exemplo de sua própria empresa, que incubou mais de 600 startups no País.

“Velocidade de inovação é tão grande, que é impossível inovar só”, disse o presidente da operadora. “As grandes empresas têm que participar desse ecossistema. IoT, por exemplo: é impossível uma empresa achar que vai fazer tudo isso dentro de casa”.

Inteligência artificial

Durante o evento, os gestores também apresentaram suas visões sobre as próximas etapas da inteligência artificial. Para Rico Malvar, cientista-chefe dos laboratórios de pesquisa da Microsoft, o ponto fundamental é “se a tecnologia será boa”. Para ele, a IA existe para ampliar a capacidade humana. “Estamos ainda no começo, na ponta do iceberg. O ideal será a combinação da IA com a inteligência humana”, disse Malvar. “Vamos chegar em um ponto em que o ser humano falará: eu não vivo mais sem IA. Já estamos chegando próximos deste ponto e não vai ter volta”.

Navarro, da Vivo, ressaltou uma posição otimista sobre IA, em especial pela tecnologia trazer redução de custos e aumento de produtividade, o que, segundo ele, vai fazer um círculo virtuoso: “a produtividade vai liberar capital para novos negócios, que vai gerar mais empregos, mais dados, e, novamente, mais produtividade”.

“IA pode ajudar a gerar mais eficiência e produtividade. Não adianta colocar barreiras. Acredito que ela levará a uma sociedade mais democrática e acessível”, completa o executivo da Vivo.

Futuro do trabalho

“Mas não tenham dúvidas que empregos serão destruídos. O risco não é a transformação, mas a exclusão. Para mim, a questão do treinamento, da capacitação e da educação são fundamentais”, comentou o CEO da Vivo.

Em outro evento, que ocorreu mais cedo, a especialista em direito digital Patrícia Peck defendeu a discussão em torno de uma taxação específica, o imposto dos robôs: “Começamos a estudar o modelo tributário. Quanto mais a gente vai para o lado da propriedade intelectual, mais eu consigo trazer os royalties”, explicou Peck, que produziu um doutorado sobre o impacto do IA na sociedade. ”Há 58 milhões de empregos para criar com a robotização, segundo o Fórum Econômico Mundial. Precisamos pensar em investir nisso para criar um Brasil mais digital e seguro”.

Por sua vez, Malvar crê que o futuro do emprego está ligado ao empreendedorismo e à mudança da educação. Para ele, o ecossistema com empreendedores pode abarcar mais profissionais que vão se transformar diante das novas tecnologias.

Em relação à educação, ele acredita que este será o maior desafio, em especial por estarmos no mesmo formato de ensino desde o começo do século XX. No entanto, o cientista-chefe da companhia do Windows e do Azure frisou que Internet e inteligência artificial podem ajudar a acelerar o ensino de uma forma mais dinâmica.

“Haverá transformação da rede de trabalho. A questão é como estamos preparados para essa mudança? Não é a primeira vez que veremos essa ruptura. É cautelosa, mas precisamos discutir o que vamos fazer a respeito”, completou Paula Bellizia, da Microsoft.