A Bain & Company, parceira preferencial da OpenAI, conversou com mais de 100 empresas no Brasil que estão interessadas em utilizar a tecnologia de inteligência artificial generativa. Em conversa com a imprensa especializada nesta quarta-feira, 10, os executivos da consultoria explicaram como estão os primeiros passos da solução entre as grandes companhias no Brasil e no mundo.

“Estamos conversando com todo mundo. Conversamos com mais de 100 empresas no Brasil nos últimos três meses. É uma tecnologia nova, ainda está no estágio inicial de uso. São companhias que têm inovação, sabem que é uma tecnologia nova e entendem que podem sair na frente com disrupção grande. Essas empresas buscam melhoria na experiência do cliente, por exemplo. Um chatbot com essa tecnologia (IA generativa) cria um ‘uau effect’ muito grande”, disse Lucas Brossi, head de advanced analytics da Bain na América do Sul.

Felipe Fiamozzini, expert partner em advanced analytics na consultoria, relatou que a estratégia de relacionamento entre as empresas-clientes e a tecnologia da OpenAI é trabalhar a agenda “do que as companhias precisam” com inteligência artificial. Isso passa por entender que aplicações podem gerar mais valor, quais podem ter mais dificuldade, quais fornecedores devem buscar e como construir o cronograma de evolução disso. Após definir todas essas etapas, a Bain e o cliente analisam como o tema da IA generativa entra na organização, como, por exemplo, treinar as equipes para evitar vazamentos, por exemplo.

Além das conversas com as companhias, a Bain & Company tem 20 casos de uso criados globalmente com a OpenAI, dos quais dois estão na América do Sul. “O processo de venda de uma grande empresa é mais complexo. Eles (OpenAI) não têm um braço comercial para conversar com as grandes companhias. Então, nós educamos as empresas, identificamos os casos de uso e a OpenAI fornece as APIs”, complementou, ao lembrar que possui mais de 30 demos rodando neste momento.

Brossi explicou ainda que a atuação de uma inteligência artificial para entrar em companhias tem três camadas “diferentes e complementares”. A primeira são os provedores desse modelo de IA generativa, como a própria OpenAI. Depois entram os provedores de infraestrutura e armazenamento, como a Microsoft com Azure, GCP e AWS, que podem rodar a OpenAI sem barreiras. E tem as camadas de aplicações e precisam treinar esses modelos e aplicações de sistema que sejam operacionais, que é onde a Bain & Company está posicionada. Aqui, a consultoria constrói a aplicação e a OpenAI cobra pelas chamadas de uso das APIs (tokens).

Mão na massa

Em pé, Lucas Brossi, head de advanced analytics na Bain & Company para a América do Sul, e Felipe Fiamozzi, expert partner em advanced analytics para a Bain (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Brossi explicitou que a Bain & Company é parceira da OpenAI há um ano e que o seu time de tecnologia é o mais avançado do mundo nos quatro produtos da parceria: GPT-4.0, Dall E-2, Whisper e Clip. A partir dessas tecnologias a Bain & Company criou um kit de ferramentas para oferecer a tecnologia com mais facilidade ao mercado. Batizado como Plato (fala-se ‘plei-to’), a solução permite criar aplicações customizadas com tecnologia da OpenAI, como:

  • Classificar e resumir os comentários de redes sociais;
  • Sugerir conteúdo para publicar em redes sociais;
  • Auxiliar em pesquisa e gestão de conhecimento;
  • Chatbots;
  • Analisar e detectar fraudes;
  • Auxiliar em tarefas administrativas que lidam com muitos dados, vide marketing, TI, jurídico, RH com autosserviço e recrutamento.

Entre os exemplos demonstrados nesta quarta-feira, os especialistas da Bain & Company mostraram chatbots fictícios para seguro automotivos e de atendimento para exames de saúde, textual e com voz, além de uma plataforma de uso interno para análise de contratos jurídicos a partir de documentos (PDF e DOC).

“Um teste que fizemos aqui é o agendamento de exame. Funciona com voz para texto. O usuário fala o local, e o bot fala as opções de horários para os agendamentos. Quando fala locais próximos da casa ou período de atendimento (manhã), o robô pega a informação de histórico do cliente e oferece os melhores locais para o consumidor. Isso facilita o processo de agendamento sem a necessidade de humano no loop”, disse Fiamozzini. “Isso traz uma melhora em relação aos chatbots baseados em árvore de decisão e mesmo da geração anterior, com uma primeira camada de IA, que tem dificuldade de interpretar pedidos. É uma experiência que muda muito com essa geração (da IA). O robô não escreve de maneira padronizada e não precisa entender um português perfeito”, explicou.

Desafios e vantagens

Ainda assim, Brossi reconhece diversos desafios na aplicação das tecnologias da OpenAI em empresas, como a acuracidade, os seus modelos serem estocásticos, o nível de criatividade que chega a ter casos de invenções por parte do bot ou utilizar propriedades intelectuais que estão na web e têm proteção de direitos autorais; além das complexidades de implementação, como o treinamento das equipes que utilizarão a tecnologia e o problema de interconexão com legados, como robôs de conversação com design mais antigo.

Na parte inventiva da tecnologia da OpenAI, a companhia já trabalha com criações de bots que analisam outros bots e bloqueiam o envio de mensagens, caso percebam que algo está sendo inventado.

Porém, o head de advanced analytics da Bain & Company afirmou que uma das vantagens da plataforma é o tempo mais curto de implementação, uma vez que uma demonstração de aplicação com OpenAI pode ser feita em semanas e a aplicação em si, como um chatbot, demora entre quatro e seis meses, um quarto do tempo que outros motores de inteligência artificial. Além disso, não há barreiras de idiomas, ou seja, a IA generativa consegue entender e conversar com base em regionalidades.