O CFO do iFood, Diego Barreto, criticou a dificuldade do Brasil em atrair o capital estrangeiro e incentivar novos empreendedores. O posicionamento do gestor foi compartilhado nesta quarta-feira, 14, durante o evento online Gig Summit, organizado pelo aplicativo de contratação de freelancers Closeer.

“No Brasil, nós não competimos empresa contra empresa, mas contra o Estado, a burocracia e a dificuldade. Ao longo do tempo, quem ficou grande ficou tranquilo, deitado em berço esplêndido. Nossas empresas não sabem competir, comparado com EUA e Ásia. Quando você compete, não aprende a ter produtividade. A fazer mais com menos. Nos acostumamos ao longo do tempo a trabalhar com capacidade ociosa, como no modelo de contratação CLT. Esse modelo (de trabalho) não funciona para todo mundo, do ponto de vista empresarial. Ele funciona quando você precisa dar estabilidade. O que não pode é contratar alguém para uma função que não exige linearidade. Historicamente o Brasil já utiliza a gig economy (economia compartilhada ou nova economia) há tempos. É o eletricista, o encanador”, disse o executivo.

Vale lembrar que o iFood e outros players de delivery enfrentaram greves dos entregadores em 2020. Os trabalhadores reivindicavam melhores condições de trabalho. O iFood é um dos grandes players da tecnologia com mais de 45 milhões de pedidos registrados em agosto de 2020, crescimento de 46% ante o mesmo período um ano antes. Recentemente avançou para a parte de empréstimo aos restaurantes, emprestando R$ 200 milhões para 7 mil estabelecimentos entre novembro de 2020 e abril de 2021.

O algoritmo e a legislação trabalhista

O evento contou ainda com a participação da advogada Andrea Tavares, do escritório Dias e Pamplona. Tavares explicou os cuidados que uma empresa precisa tomar para se adaptar à gig economy. Tavares lembra que, pelo âmbito da lei, caracteriza vínculo de trabalho “habitualidade, lógica de trabalho, hierarquia e pessoalidade”. No seu entender, o empresário precisa eliminar pelo menos duas dessas quatro características para não sofrer problemas com a Justiça do trabalho. Para a advogada, o app pode atuar nesse sentido, evitando que haja a pessoalidade e a habitualidade.

Ainda lembrando da greve dos motoboys, em 2020, Aarão Miranda da Silva, professor de direito da Faculdade São Judas Tadeu e relator do Tribunal de Ética da OAB-SP, explicou ao Mobile Time que, embora estejamos na era digital, esta é uma clássica disputa na relação ‘capital x trabalho’, uma vez que os trabalhadores inseridos na economia compartilhada continuam dependendo dela para sobreviver.

O lado dos restaurantes

Também participante do evento da Closeer, Daniel Allegro, diretor da rede de restaurantes Ráscal, apresentou um outro lado de contratação dos trabalhadores da gig economy. Ele relatou que paga atualmente R$ 120 por oito horas de trabalho para funcionários freelancers. O executivo explicou que a contratação desses profissionais, por meio do app da Closer, tem como intuito reduzir os gastos com profissionais fixos (CLT) para reduzir a escala de trabalho e por consequência a folha salarial da empresa.

“Posso ter uma escala com menos dois e chamar um extra se precisar. Eu pego esse próximo e coloco no serviço básico (lavar chão, por exemplo).  Isso é economizar 40 funcionários contando todas as lojas. E nós pagamos acima do piso. Sem criar subemprego”, disse Allegro.

O executivo do Ráscal ainda criticou aqueles que pagam mal seus funcionários da gig economy. Em sua visão, os empresários que não valorizam seus funcionários no PJ também o fazem com celetistas. Afirmou ainda que é preciso regular essas empresas para que não haja abusos da legislação: ”Economia compartilhada é racionalizar os recursos. Não é o fim da CLT. É um encaixe para tornar as empresas mais eficientes”, concluiu.