A Stock Car vai se transformar em um grande laboratório para soluções de conectividade de grandes empresas: esse é o plano da Audace Tech, braço de tecnologia do grupo Veloci, que controla a Vicar, promotora da Stock Car. Como parte dessa missão, um novo carro está sendo desenvolvido, com lançamento previsto para 2025. Ele terá câmeras com transmissão ao vivo de imagens em alta definição e uma série de sensores para envio de dados de telemetria para as equipes e para o público em tempo real, tudo por meio de uma rede celular privativa 5G a ser montada e desmontada em todos os autódromos pela Audace Tech a cada corrida. Os testes começaram este ano e vão se intensificar ao longo de 2024.

“O carro que compete hoje tem mais de 10 anos, então precisamos dar uma virada de página. Queremos nacionalizar e modernizar o carro. Ele será mais seguro, mais rápido, mais conectado e mais ecológico. O novo modelo nascerá com o objetivo de fortalecer a indústria nacional e transformar a Stock Car em um laboratório para grandes empresas”, descreve Enzo Bortoleto, CEO da Audace Tech, em conversa com Mobile Time.

Desafios da rede celular privativa

A empresa já tem licenças da Anatel para operar redes celulares privativas na faixa de 3,7 GHz a 3,8 GHz em todos os autódromos que recebem corridas da Stock Car no Brasil. Testes já foram feitos em alguns deles, como Interlagos. São instaladas ERBs móveis, conhecidas como COWs, para cobrir toda a pista e as dependências de cada autódromo. Em geral seis a oito antenas são suficientes, diz o executivo.

O primeiro desafio foi garantir a estabilidade da transmissão de dados durante o handover, ou seja, na transição entre antenas, o que acontece em alta velocidade – o carro atual costuma atingir 250 Km/h nas retas e o novo modelo será ainda mais rápido. Ajustes no software do core da rede precisaram ser feitos para dar conta disso.

Cada carro terá três câmeras: uma de 360 graus instalada dentro do veículo, mostrando o piloto, e duas externas, na frente e na traseira, todas transmitindo imagens em 4K. Os testes até agora foram feitos com um veículo de corrida e com quatro veículos de rua no autódromo. Mas a ideia é que em 2025 todos os 34 carros que disputam a competição transmitam as imagens simultaneamente, o que consistirá em um novo desafio.

“O grande problema é na largada, com todos os carros em duas fileiras espremidos, e com sinal ancorado em uma ou duas antenas. Esse é o grande desafio que estamos estudando agora. Uma possibilidade, de repente, é na largada subir apenas uma câmera. Estamos nos estudos finais. Queremos testar isso nas duas etapas restantes do ano, dias 26 de novembro, em Cascavel, e 17 de dezembro, em Interlagos”, comenta o executivo.

Dados e modelos de negócios

No novo carro, diversos dados serão coletados em tempo real e transmitidos pela rede 5G, como velocidade, marcha, pressão no pedal do acelerador, pressão no freio etc. Eles serão divididos entre três destinatários: as próprias equipes, para tomarem decisões mais rápidas; o público que assiste a corrida; e a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), para embasar seu julgamento caso haja algum incidente.

Os dados destinados ao público poderão ser entregues via APIs para provedores de conteúdo que transmitem as corridas. São mais de 30 canais de streaming e cada um tem uma abordagem diferente, com um foco em determinados aspectos da corrida. A comercialização do acesso a esses dados consistirá em uma nova fonte de receita para os organizadores da Stock Car.

O app oficial das corridas também trará muitos desses dados e poderá oferecer o acesso ao vivo às câmeras dos carros, mas restrito a assinantes.

Além de tudo isso, o público e os profissionais presentes nos autódromos poderão acessar a Internet através de uma rede FWA suportada pela rede celular privativa 5G.

A Audace Tech planeja ser uma integradora de tecnologia não apenas da Stock Car, mas para grandes eventos em geral, sejam de esportes ou de outros segmentos, afirma Bortoleto.

A empresa não informa quanto está investindo no projeto, mas espera ter o retorno em menos de 24 meses, graças às novas fontes de receita que serão criadas.

A Telesys/Baicells é a fornecedora das antenas 5G para as redes privativas dos autódromos e a Panorama Antennas é a responsável pelas antenas instaladas nos carros. Várias outras empresas têm participado dos testes, como Beenoculus, Qualcomm, Vivo e Intelbras.