Senado australiano foi palco de uma audiência nada amistosa entre os senadores e diretora geral do Google Austrália e Nova Zelândia, Melanie Silva

Um dia após fechar acordo para pagamento de royalties aos sites de notícias franceses, o Google subiu um degrau na disputa similar que acontece na Austrália. Em audiência no Comitê de Legislação Econômica do Senado daquele país, Melanie Silva, diretora-geral do Google na Austrália e Nova Zelândia, disse que o motor de busca da empresa “pode ser tirado do ar”.

De acordo com Silva, a continuação da lei que força o Google a entrar em acordo com os veículos da mídia da Austrália pode forçar a saída do buscador do país. Na visão de Silva, a lei que criou um código de conduta de negociação entre empresas de mídia e grandes empresas de tecnologia (Google e Facebook) é “impossível de trabalhar”.

Na audiência, os senadores consideraram a fala de Silva como uma “ameaça” ante uma regulação. Mas a executiva ressaltou que  seria “uma saída de último caso”.

Assim como aconteceu na França, o imbróglio se deve ao fato de que os veículos noticiosos exigem que o Google pague para indexar suas notícias em suas plataformas, o que pode ficar caro para Google e Facebook, que são contra a lei.

Disputada acalorada

Melanie Silva, diretora-geral do Google Austrália e Nova Zelândia

Para Silva, o Google tem vários arranjos comerciais com empresas de mídia, em um modelo que os veículos criam e curam conteúdo – leia-se News Showcase. Contudo, o modelo atual da lei australiana dá mais poder de negociação para as mídias. Note-se que a executiva disse que o modelo do Showcase não é uma forma de pagamento de royalties, mas de “licenciamento” da mídia produzida.

Em contrapartida, o senador Andrew Bragg lembrou que o Showcase ainda não foi lançado na Austrália e que o Google está em uma posição de domínio para negociar com as empresas (95% do mercado de busca no país). Durante a conferência, a diretora da empresa revelou que o Google na Austrália obteve uma receita de US$ 4,8 bilhões e pagou US$ 59 milhões em taxas no ano passado. Se pagar as empresas de mídias devidamente, o custo deve ser de aproximadamente US$ 600 milhões por ano.

Em conversa com a imprensa do país, o primeiro-ministro australiano Scott Morrison afirmou que não responde a ameaças: “Deixe-me ser claro. A Austrália estabelece regras para coisas que você pode fazer na Austrália. Isso é feito em nosso Parlamento. É feito pelo nosso governo e é assim que as coisas funcionam aqui na Austrália e as pessoas que querem trabalhar com isso na Austrália são bem-vindas. Mas não respondemos a ameaças”, disse Morrison.