A adoção do 5G pelas operadoras no Brasil tem a possibilidade criar uma oportunidade de negócios com o compartilhamento de redes no modelo aberto. Durante o Teletime Tec, evento organizado por Teletime nesta terça-feira, 24, Vinícius Caram, superintende de outorga e recursos à prestação da Anatel, explicou que a “detentora do espectro primário, não fazendo uso da faixa, deve ofertar para outro interessado usá-la”.

Ou seja, uma operadora que adquirir uma faixa no leilão da rede de celular de quinta geração precisará repassar a faixa que possuir em uma região que não cobre. Atualmente, a proposta da rede aberta e compartilhada está no conselho diretor da Anatel sob análise do conselheiro Carlos Baigorri.

Segundo Luiz Bourdot, diretor de evolução tecnológica da Claro, a ideia do compartilhamento de recurso de redes, em princípio, é “uma boa ideia pela otimização de recursos”. Contudo, o executivo lembrou que é preciso definir o modelo de negócios. Bourdot explica ainda que o compartilhamento é uma oportunidade e pode ser atrativo, se encontrar situações viáveis, como ocorre com o RAN sharing com a Vivo atualmente.

Para Alex Jucius, presidente da Associação Neo, o compartilhamento depende de regras e de remuneração ao operador primário: “A ideia não é trazer nenhum oportunista, mas hoje, com as novas tecnologias, há oportunidade de explorar o mercado secundário”, completou.

Nas conexões móveis, Jucius vê espaço para ofertar para ISPs conexões compartilhadas, em especial de 700 MHz com 4G e complementando com redes de 5G nacionais e regionais: “Seria uma série de players neutros”, disse o executivo. Contudo, o presidente da NEO acredita que é importante detalhar como virá o capital de investimento (como suporte de operadora, torreiras ou fundo) e o custo de construção das redes.

Não licenciados

Outro tema do debate foi o uso de frequências para redes não licenciadas. Para Francisco Giacomini Soares, vice-presidente de relações institucionais da Qualcomm, a entrada do 5G privado e do Wi-Fi 6e demanda uma destinação de 1.200 MHz para o espectro não licenciado em 6 GHz. De acordo com o executivo da fornecedora, sem essa ampliação pode existir um gargalo de rede.

“Não tem como evoluir para o 5G sem passar pela implementação das redes licenciadas, sem não ter o Wi-Fi evoluindo. Defendemos o Wi-Fi 6e e 5G não licenciados. Apoiamos mais 1,2 GHz nos 6 GHz. Se não acontecer, trará um estrangulamento para o mercado”, disse Soares. “A quantidade de players e empresas que devem surgir com alterações no ecossistema de 5G,com redes privadas e novos espectros, permitem a criação de novos modelos de negócios”, defendeu o representante da fornecedora.

Por outro lado, Bourdot acredita que essa faixa ainda é importante para os serviços móveis. O diretor da Claro explicou que os 1.200 Mhz são importantes para complementar as redes móveis com alguma frequência abaixo de 10 GHz. Dito isso, o executivo defende uma divisão de 500 MHz para uso não licenciado e 700 MHz para licenciado.

Jucius, da Neo, também defendeu a evolução da rede. De acordo com o representante dos pequenos provedores, há um “gargalo no Brasil para levar velocidades superiores”. Em suas palavras, o presidente da associação diz: “Nós levamos a fibra ótica até o cliente, mas ele morre na praia com o Wi-Fi na ponta”.