A dificuldade de adesão dos novos entrantes no open finance e de interoperabilidade na troca de dados entre os bancos são os atuais desafios do sistema financeiro aberto, apontou Ivo Moscá, superintendente executivo de open finance e digital payments do Itaú. Durante o TecBan Summit, evento realizado pela TecBan nesta quarta-feira, 26, o executivo recordou que o mercado financeiro estava acostumado a trabalhar em um modelo centralizado. Portanto, o avanço para a descentralização a partir da troca de dados entre instituições traz percalços.

Ivo Moscá, superintendente executivo de open finance e digital payments do Itaú (Foto: Henrique Medeiros/Mobile Time)

“O caminho é árduo para desenvolver soluções com o desafio tecnológico de lidar com a interoperabilidade. Nós estávamos acostumados com um sistema centralizado, como sistema de pagamentos via CIP ou SPI. O open finance tem o desafio de garantir a interoperabilidade sem uma câmara. E se o dado não flui?”, disse o executivo. “Nós (bancos) estamos conversando com o Banco Central para aumentar o funil de consentimento no open finance. Isso passa por toda a questão de interoperabilidade. Hoje, todo novo entrante tem dificuldade de se conectar a uma outra instituição. Nós percebemos que tem uma amplitude (de dados) que prejudica a interoperabilidade”, complementou.

Na conversa com o regulador, os bancos participantes avaliam a possibilidade de criar um arcabouço tecnológico para simples conexão de novos players. “O plug and play seria o nosso sonho de consumo. A questão é: como fazer isso com toda a evolução do open finance em curso?”, questionou Moscá.

Karen Machado, executiva líder de open finance e BaaS do Banco do Brasil (BB), acredita que interoperabilidade é a base do open banking, mas também é preciso ter mais participantes no ecossistema como um todo. Um exemplo citado pelos dois executivos é que atualmente há 28 instituições cadastradas com troca de dados e 100 como iniciadores de pagamentos (ITP) – entre fintechs e bancos tradicionais.

Além da interoperabilidade, a executiva do BB enxerga a educação e a comunicação ao cliente como outros empecilhos no open finance: “Quando a pessoa assiste a Netflix ninguém sabe o que é streaming. Só sabe que é um app para assistir a um filme. O open finance deve seguir a mesma linha. O cliente precisa saber que aquele dado compartilhado é usado em seu próprio benefício”, completou.

América Latina

Nick Grassi, CEO e cofundador da Finerio (foto: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Edwin Zácipa, fundador da Latam Fintech Hub, explicou que o open banking na América Latina tem apenas Brasil, México e Colômbia com iniciativas concretas em open banking e open finance. Sendo que a Colômbia é o único que lançará ação de open data no próximo mês. O especialista explicou que o único país com políticas definidas na região é o Brasil e, com essas iniciativas, a América Latina torna-se um laboratório para os mercados emergentes olharem e depois aproveitarem.

Porém, Zácipa explicou que há desafios, como a interoperabilidade e definição de padrões de APIs no open banking que dependerá de cada BC de cada país, uma vez que muitos setores nas finanças “não entendem os benefícios desse tipo de inovação”.

Por sua vez, Nick Grassi, CEO e cofundador da Finerio Connect, uma empresa de gerenciamento de finanças pessoais (PFM) com 120 clientes B2B e 100 mil clientes B2C por mês, afirmou que o desafio no open finance nos países hispânicos é ajudar a usar as APIs e no Brasil é criar casos de uso a partir das APIs. Também listou entre os desafios:

  • Como implementar um sistema financeiro aberto justo e confiável;
  • Como competir;
  • E como construir negócios sustentáveis.

E entre as oportunidades:

  1. Começar cedo e ingerir bastante dados para ter uma base relevante;
  2. Tomar como vantagem a limpeza e consumo de dados vindo de fontes terceiras;
  3. E alinhar capacidades de negócios com a possibilidade de criar experiências únicas aos clientes.

Casos de uso

Karen Machado, executiva líder de open finance do BB e Ivo Moscá, superintendente de open finance no Itaú (foto: Henrique Medeiros/Mobile Time)

Uma vez resolvidos esses desafios, o fundador da Latam Fintech Hub explicou que há três modelos de negócios possíveis: novos serviços de pagamentos interoperáveis; ecossistema digital; e banking as a platform: “Estamos chegando a um cenário de apps, os agregadores bancários. Isso é algo que cresce em toda a América Latina. Começa com startups, mas os bancos também começam a avançar neste tema. Segundo é a construção de ecossistemas que podem ser construídos com diversos serviços em um banco (vide comércio) e parcerias com terceiros (OTTs). E por último, os pagamentos interoperáveis com agregadores financeiros. Isso está sendo levado para toda a América Latina com os players copiando o Pix e o sistema de iniciador de pagamento do Brasil”, detalhou.

Karen Machado, do BB, explicou que o agregador financeiro traz oportunidade para olhar a vida financeira do cliente, não só no banco, mas no sistema financeiro. Afirmou que estamos em um momento em que o relacionamento com o cliente é em plataforma: “Pode ser em banco, pode ser em PFM, pode ser em outra plataforma ou outro sistema. Acho que o relacionamento com o cliente é a melhor plataforma, e o banco vai brigar para ser a melhor plataforma, com serviço e inteligência consultiva, pois precisamos simplificar a vida do consumidor de serviços financeiros”, previu a executiva.

Moscá, do Itaú, afirmou que, embora estejam avançados e estejam na liderança com 30% dos consentimentos de dados do open finance, o mercado como um todo está no começo da jornada e aprendendo. Mas reconhece que os agregadores de dados com iniciação de pagamento começam a tornar o open banking uma realidade ao consumidor brasileiro: “Hoje vemos todos os casos teóricos se materializando no Brasil. Por exemplo, os agregadores de dados, tem uma parte não visível para o cliente que melhora a experiência dele no app. Ou seja, o banco não precisa mais ter um cliente por um tempo determinado para entender seu comportamento e oferecer crédito. Em cinco minutos, o consumidor faz o open finance e o banco tem o histórico financeiro dos últimos 12 meses do usuário”, concluiu o superintendente do banco.