Os estandes no Mobile World Congress (MWC) são cheios de atrações futuristas para chamar a atenção do público, com robôs interativos, jogos de realidade virtual e até transmissão de tato e sabor pela Internet. Mas quem frequenta o evento todo ano talvez tenha notado um clima diferente, mais pragmático, realista mesmo. Para as operadoras, depois de gastarem caminhões de dinheiro em espectro para 5G e na implementação da nova tecnologia, a pressão dos acionistas pelo retorno sobre esse investimento cresceu. Portanto, chegou a hora de enfrentar a realidade do 5G e encontrar caminhos para monetizá-lo.

Os sinais desse choque de realidade ficam visíveis quando se compara com a edição anterior do evento. Se no ano passado se falava muito de 6G, desta vez o termo mal apareceu nos debates. A atenção está toda, ou quase toda, concentrada em fazer dinheiro com o 5G.

O Open Gateway é um dos caminhos para isso. O projeto, desenhado pela GSMA, foi um dos destaques no painel de abertura do evento. Mais de 240 operadoras aderiram à iniciativa, e o Brasil é um dos mercados mais avançados, no qual as três grandes operadoras já disponibilizaram APIs.

A Telefônica é uma das mais engajadas: lançou um sandbox de Open Gateway para desenvolvedores experimentarem as APIs nas suas operações no Brasil, na Espanha e na Alemanha.

Os fabricantes de equipamentos querem ajudar as teles a alavancar o Open Gateway. Ericsson e Nokia, por exemplo, oferecem soluções de marketplaces para a distribuição das APIs.

No ecossistema de parceiros de serviços digitais das teles, vários enxergam no Open Gateway uma nova fonte de receita e querem atuar como seus revendedores. Um exemplo é a Infobip.

Coincidentemente (ou não), as teles baixaram o tom nas críticas às big techs. O termo “fair share” não apareceu na abertura do evento – o que não significa que tenham abandonado o pleito. A verdade é que as big techs tendem a se tornar grandes clientes do Open Gateway, especialmente no uso da API de qualidade sob demanda (QoD, na sigla em inglês). Ou seja, em vez do pagamento de uma taxa, pode ser que a contribuição das big techs para a infraestrutura de telecom venha na forma de contratos para uso das APIs do Open Gateway.

As redes celulares privativas são outro tema que continua em alta e que também atende ao propósito de monetizar o 5G. Estandes de vários fabricantes de equipamentos apresentam diferentes casos de uso com essa solução.

IA generativa e computação quântica

Na edição do ano passado, o ChatGPT tinha acabado de aparecer para o grande público e o setor de telecom ainda não sabia bem como essa tecnologia o afetaria. Transcorridos 12 meses, a IA generativa aparece com naturalidade em diversos estandes, como se fosse uma tecnologia conhecida de longa data.

Por outro lado, uma novidade disruptiva e promissora chamou atenção por começar a ganhar espaço no evento: a computação quântica. Houve um painel dedicado ao assunto; a iniciativa europeia Quantum Flagship montou um estande grande; pelo menos duas startups sul-coreanas apresentaram produtos de comunicação quântica; e a China Mobile levou para a feira o seu Super SIM, um chip cujos dados são protegidos por chave quântica.

Em suma, se o 5G prega nossos pés no chão, a computação quântica nos faz sonhar alto.

Foto da entrada do MWC 2024, em Barcelona. Foto: Fernando Paiva/Mobile Time