[Atualizado às 19h30 de 4/11/2025 com posicionamento da 99] O Conselho Administrativo de Defesa Econômico (Cade) abriu um procedimento administrativo para acompanhar o mercado de delivery brasileiro. O documento que Mobile Time teve acesso nesta terça-feira, 4, mostra que a averiguação acontece em praças onde 99Food e Keeta começaram suas operações e entraram em disputa de mercado contra o iFood.

“Solicita-se ao Departamento de Estudos Econômicos (DEE), cuja missão é zelar pelo rigor e atualização técnica e científica das decisões do órgão, a elaboração de estudo e/ou parecer econômico para subsidiar o acompanhamento de atividades e práticas comerciais no mercado de marketplaces de delivery online de comida nos municípios de Goiânia; Rio de Janeiro; Santos; São Paulo; e São Vicente”, diz trecho do documento.

Importante lembrar, a 99Food (controlada pela chinesa DiDi) iniciou sua operação em Goiânia em julho, agosto em São Paulo e Rio de Janeiro em outubro. Por sua vez, a Keeta (gerida pela também chinesa Meituan) começou a atuar na baixada santista (Santos e São Vicente) no final de outubro.

Respostas

Esta publicação entrou em contato com o regulador e os três players de delivery envolvidos na ação.

De acordo com o iFood, a medida surge em um “momento oportuno”, pois a empresa vê com “preocupação” o avanço de “práticas predatórias adotadas por concorrentes recém-chegados ao mercado brasileiro”, com “políticas comerciais insustentáveis” e que têm o potencial de “causar danos estruturais à concorrência local e a todo o ecossistema – restaurantes, entregadores e consumidores”.

Disse ainda que estão colaborando ativamente com o Cade e acreditam que o acompanhamento reforçado contribuirá para evitar distorções e garantir um “ambiente de livre concorrência, inovação e qualidade para os milhões de brasileiros que dependem desse ecossistema”.

Por sua vez, a 99Food disse que “acolhe com naturalidade” o interesse do regulador em acompanhar o desenvolvimento sustentável desse mercado. Acredita que a atuação do Conselho é essencial para garantir “condições que permitam a efetiva atuação de novos players, como a 99Food, ampliando a concorrência e a diversidade de ofertas”.

O player ainda “reitera seu compromisso com uma conduta ética e pró-concorrencial, bem como com a continuidade dos investimentos no setor, gerando maior demanda e rentabilidade para restaurantes, expandindo oportunidades de renda para entregadores e oferecendo aos consumidores conveniência e preços justos — tudo isso contribuindo para um ambiente mais dinâmico, competitivo e equilibrado”.

O espaço fica aberto para Keeta e Cade se posicionarem.

Histórico da disputa e do delivery no Brasil

Com mais de dez anos, o iFood é líder do mercado de delivery brasileiro com 81% de preferência, segundo o Panorama Mobile Time | Opinion Box sobre o comércio móvel de dezembro de 2024. Em conversa recente com esta publicação, o CEO da empresa afirmou não querer entrar em guerra por preços pelo segmento, mas observou movimentos regulatórios da Ásia e do Oriente Médio que barraram investidas de tentativa de dominância de mercado com preços baixos aos consumidores e taxas menores aos comerciantes por empresas financiadas direta ou indiretamente por governos.

Fontes próximas ao tema viram essa posição com estranheza pelos seguintes motivos:

  1. O iFood estar em posição dominante no mercado nacional;
  2. Ter lançado a solução iFood Hits com preços baixos (a partir de R$ 15) para disputar com os rivais;
  3. E pelo iFood ter se envolvido em disputa concorrencial contra outro player de delivery, o Rappi, algo que foi resolvido em 2023 com o Cade proibindo cláusula de exclusividade com grandes restaurantes.

Já a 99 voltou oficialmente com sua entrega de comida em abril deste ano. Em junho, a companhia lançou sua primeira operação em Goiânia e obteve 1 milhão de entregas em 45 dias. Em agosto, a empresa anunciou o lançamento do delivery para a região metropolitana de São Paulo com 20 mil restaurantes e 50 mil entregadores.

Por sua vez, a Keeta anunciou a chegada de seu delivery no mercado brasileiro em maio deste ano. A sua operação de delivery terá um investimento de até R$ 6 bilhões em cinco anos para apoiar a sua expansão no segmento de restaurantes e bares. Oficialmente, a empresa da Meituan começa o seu serviço em regime piloto em duas cidades do litoral sul paulista, Santos e São Vicente.

Casos de polícia e de Justiça

No último dia 22 de outubro, o site da Veja chegou a noticiar a abertura de uma investigação comercial e diligência de busca e apreensão da Polícia Civil de São Paulo contra a Keeta. O motivo seriam crimes de concorrência desleal, furto de segredos comerciais e cooptação de ex-funcionários do iFood, o que Diego Barreto, CEO do principal delivery do país chamou de “espionagem corporativa” em seu perfil no Linkedin ao citar a matéria. Na ocasião, a Keeta afirmou que não recebeu nenhuma notificação ou execução de mandado, e reiterou compromisso com as melhores práticas de mercado e que está aberta a colaborar com as autoridades locais.

Paralelamente, 99 e Keeta travam uma batalha na Justiça de São Paulo por uma cláusula de exclusividade que a 99Food colocou no contrato com os restaurantes em seu retorno ao mercado de delivery. A sua rival, que é controlada pela Meituan, teve um primeiro ganho de causa no último dia 21 de outubro, mas a companhia da DiDi afirmou que vai recorrer.

Essa disputa ganhou um capítulo adicional na última semana com a 99 abrindo uma investigação interna para avaliar tentativas de roubos de informações confidenciais por meio de ações criminosas e espionagem industrial contra seus funcionários.

 

Imagem principal: Ilustração produzida por Mobile Time com IA

 

*********************************

Receba gratuitamente a newsletter do Mobile Time e fique bem informado sobre tecnologia móvel e negócios. Cadastre-se aqui!

E siga o canal do Mobile Time no WhatsApp!