| Mobile Time Latinoamérica | A inteligência artificial está no centro da conversa tecnológica global, mas, para a América Latina, o verdadeiro desafio é contar com redes rápidas, confiáveis e com cobertura suficiente, como as oferecidas pelo 5G. Caso contrário, o potencial da IA dificilmente se concretizará na região. A afirmação foi feita por Mengbo Cai, presidente de Carrier Business para a América Latina na Huawei, durante sua participação no M360 Latam, organizado pela GSMA na Cidade do México.
Em sua apresentação, Mengbo Cai trouxe dados sobre o avanço da infraestrutura na Ásia e comparou com o cenário latino-americano. Ele reforçou que o desenvolvimento da IA não pode ser dissociado de uma base sólida de conectividade. “A inteligência artificial será apenas um sonho se não tivermos uma infraestrutura robusta de TIC na América Latina”, afirmou.
Desafio no avanço do 5G e da fibra óptica
Cai destacou que os países latino-americanos ainda estão longe de atingir os níveis de cobertura e velocidade necessários para suportar aplicações avançadas baseadas em IA. Enquanto na China já foram instaladas mais de 3,7 milhões de estações de rádio base 5G, com cobertura praticamente nacional, na América Latina ainda existem desafios relacionados à qualidade da rede, à penetração da fibra óptica e à construção de data centers.
“O 5G não é mais novidade na China; já concluímos o seu lançamento em nível nacional. Agora usamos essa rede para tornar a indústria mais eficiente”, explicou. Em cidades como Pequim e Xangai, as redes domésticas já alcançam velocidades de até 10 Gbps, viabilizando experiências que vão desde jogos na nuvem até atendimento médico assistido por IA diretamente de casa.
Em contrapartida, ele apontou que, na América Latina, apenas 3% dos lares possuem conexões de velocidade gigabit, e somente cerca de 34% têm acesso à fibra óptica. “Ainda estamos muito distantes de uma rede nacional de fibra. O cobre e o cabo precisam migrar totalmente para fibra. A fibra é o futuro, a fibra é tudo”, ressaltou.
Além da construção de infraestrutura, a Huawei também promove o uso de inteligência artificial nas próprias redes, com o objetivo de automatizar sua operação e torná-las mais eficientes. Essa estratégia, conhecida como autonomous driving networks (redes autônomas), permite reduzir o consumo de energia, coordenar múltiplas tecnologias móveis (2G, 3G, 4G e 5G) e otimizar o uso do espectro.
“Com o apoio da IA, o consumo de energia nas redes pode ser significativamente reduzido. Além disso, melhora-se o desempenho de redes que utilizam diferentes tecnologias e faixas de frequência. Isso impacta diretamente na experiência do usuário”, explicou Cai.
A Huawei já começou a trabalhar com operadoras latino-americanas nesse modelo de redes. Um dos exemplos citados foi a implantação de um porto inteligente no Peru, em parceria com uma operadora local. “Isso não é um sonho, já é realidade. O porto de Chancay, no Peru, é o primeiro da região a utilizar 5G e IA para operar de forma mais eficiente”, afirmou.
No entanto, além do aspecto técnico, Mengbo Cai ressaltou que, para fechar a brecha digital, também é necessária vontade política e um ambiente regulatório adequado. Ele fez um apelo aos governos da região para que criem políticas públicas que incentivem investimentos em infraestrutura e estabeleçam fundos que viabilizem a expansão das redes 5G e da fibra óptica, especialmente em áreas onde o retorno financeiro é baixo.
“Há três pilares fundamentais para o desenvolvimento da IA na região: políticas públicas que incentivem, construção de redes 5G de alta qualidade e desenvolvimento de aplicações sobre essa base”, disse. E acrescentou: “Se fizermos isso, poderemos replicar e adaptar casos de sucesso de outras partes do mundo.”
Ele também destacou que Brasil e México deram os primeiros passos ao definir estratégias nacionais de inteligência artificial, mas alertou que os planos precisam se transformar em ações concretas. “A estratégia é apenas o começo, é preciso partir para a execução. Isso exige redes, data centers, serviços em nuvem e trabalho conjunto entre governos, indústrias e operadoras”, reforçou.
Huawei quer ser parceira na transformação digital da América Latina
Cai apresentou exemplos do impacto das tecnologias combinadas de IA, 5G e fibra na China, desde jogos na nuvem e codificação de vídeo por IA até monitoramento residencial com câmeras inteligentes. No ambiente empresarial, ele citou fábricas inteligentes, portos autônomos e centros de saúde conectados como cenários que já estão operando e que poderiam ser replicados na América Latina.
“O 5G não é só para os consumidores, é para toda a indústria. Ele permite que a manufatura seja mais rápida e eficiente”, explicou. Também alertou que, sem velocidades mínimas de 1 Gbps nos lares, muitas aplicações de IA simplesmente não funcionarão de maneira fluida.
Cai encerrou sua apresentação com um chamado à ação. “A IA já está mudando nossas vidas, mas, se quisermos que ela transforme a América Latina, primeiro precisamos construir juntos a infraestrutura que torne isso possível (…) A Huawei quer ser uma parceira ativa. Estamos prontos para trabalhar com operadoras, governos e indústrias para digitalizar a região”, concluiu.
A imagem acima foi criada por Mobile Time com inteligência artificial.