O serviço de delivery está em alta em tempos de pandemia do novo coronavírus. Algumas empresas detectaram um aumento significativo em seus negócios e, assim, ajudam os varejistas a movimentarem seus caixas, entregadores continuam ganhando e as pessoas ficam em casa. Um ponto observado por uma pesquisa realizada por eBit/Nielsen, parceira da Associação Brasileira de Supermercados, foi o crescimento maior que a média de novos consumidores usando e-commerce no Brasil, ou seja, de pessoas que realizaram pela primeira vez uma compra online. O número de novos consumidores no autosserviço chegou até a 45% em alguns dias de março. De acordo com uma outra pesquisa, dessa vez do RankMyAPP, a categoria de delivery, depois de dois meses em declínio, sendo -5% em janeiro e -9% em fevereiro, em março viu um crescimento de 30%.

As startups estão sentindo esse aumento. A James Delivery (Android, iOS), que faz parte do Grupo Pão de Açúcar, confirma o aumento exponencial do serviço no mês de março, quando o isolamento social começou. O número de downloads do app, por exemplo, teve um crescimento de 80% com relação ao mês de fevereiro. Já o número de novos usuários subiu 50% e houve incremento de 60% em usuários ativos diários (DAUs), também na comparação com fevereiro.

Por sua vez, o Zee.Now (Android, iOS) sentiu um aumento significativo na quantidade de pedidos em seu app. Na comparação entre março e fevereiro, houve aumento de 40% no total de pedidos. Com relação à receita, o app registrou crescimento de 52%.

Diogo Travassos é CEO da Picap no Brasil

O recém-implementado sistema de delivery e entregas na Picap (Android, iOS), empresa de transporte de passageiros com motociclistas, viu um salto importante em pouquíssimo tempo. Por conta do isolamento social, o novo serviço foi implementado. Há quatro semanas a opção de transporte de passageiros representava 98% e o de entrega apenas 2%. Porém, nos últimos dias, segundo o CEO, Diogo Travassos, a entrega já representa em 30% e o transporte de pessoas, 70%.

Para o cofundador do James Delivery, Lucas Ceschin, o momento demanda que sejam pensadas e desenvolvidas soluções que tornem a experiência dos clientes ainda melhor e prática, além de segura para quem não pode sair de casa.

“O cenário vai trazer grandes aprendizados para o mercado de delivery e especialmente para nós do James. Como somos parte do GPA, controlador das redes Extra e Pão de Açúcar, estamos lidando com uma alta demanda de compras de supermercados pelo app – esse tipo de pedido mais do que dobrou na comparação com o período antes das recomendações de isolamento social. Com isso, aceleramos a nossa operação e buscamos alternativas, como a parceria com motoristas de aplicativos de transporte individual, por exemplo, para garantir que os pedidos sejam entregues dentro do prazo, que para nós é de até uma hora, premissa do James. Embora seja um cenário bastante desafiador, entendemos que as lições aprendidas nesse período serão fundamentais para aprimorar cada vez mais a experiência dos clientes com o James”.

Vale lembrar que a Uber Eats (Android, iOS) anunciou no início de abril que passa a entregar, além de comida, itens de farmácia, pet shop e de lojas de conveniência. No momento, as novas categorias estão disponíveis em São Paulo e devem chegar em breve a outras praças. Por enquanto, é possível fazer pedidos de produtos das unidades da rede de farmácias Pague Menos e em unidades da pet shop Cobasi. No caso das lojas de conveniência, estão disponíveis produtos de 30 lojas do Shell Select, da rede de postos Shell, e nesta semana o número deve crescer para aproximadamente 100 unidades.

Não se sabe, porém, se as novidades foram aceleradas por conta do isolamento social ou simplesmente já estavam programadas.

Apesar de não informar números, a Rappi (Android, iOS) sentiu um “aumento significativo” no número de pedidos de supermercado. A empresa informou a este noticiário também que as categorias que registraram um maior aumento no número de pedidos foram farmácia, restaurante e supermercado. A Rappi também observou em março um crescimento no número de downloads do app.

O outro lado da moeda

Apesar de um crescimento nas vendas entre os apps de delivery, o presidente da Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), Vitor Magnani, alerta para a importância da saúde do ecossistema como um todo, e não de alguns de seus elos.

“Acho que ninguém está passando por este período de uma maneira suave. Os nossos negócios operam em rede e se uma ponta não está bem, ninguém vai bem. É preciso uma demanda e alguém para ofertar, além de vários intermediários no caminho. E quem não estiver preparado para o mundo digital vai ter sérios problemas. O que temos de concreto: pequenas e medias empresas representam 58% das carteiras assinadas do País. Elas são as maiores empregadoras. Mas essas empresas conseguem operar com o que tem no caixa por 25 dias, apenas. Se essas empresas não conseguirem, elas vão passar por enormes dificuldades e muitas delas podem demitir, como vêm demitindo, e podem fechar as portas. E isso será um grande abalo em todo o comercio eletrônico”, resume Magnani.

O presidente da ABO2O acredita que que este é um momento de dois grandes aprendizados. O primeiro deles é que o ecossistema vive da codependência e que não adianta um eixo ou uma empresa apenas ficar bem se o resto não está. “Precisamos cada vez mais do conceito de ecossistema em que cada um cumpre sua função”.

O segundo aprendizado é a digitalização, absolutamente necessária, sem perder as lojas e os serviços do mundo físico. “As pessoas como um todo não tinham a percepção desse novo contexto do mundo, de você ter que trabalhar no digital. Não é excluir o mundo físico. É muito mais que isso. É preciso trabalhar numa rede, com consumidores, fornecedores, com produtos mais eficientes e customizados. É preciso fazer a transformação digital. Algumas empresas, que levariam cinco anos para mudar de sistema, de cultura, de hábitos, está tendo que fazer em dias”, conclui.