A Meituan anunciou nesta segunda-feira, 12, a chegada de seu delivery no mercado brasileiro. Segundo a companhia, a marca Keeta será lançada no país nos próximos meses e terá um investimento de até R$ 6 bilhões em cinco anos para apoiar a sua expansão no segmento de restaurantes e bares. Mas isso pode ser apenas o começo: na China, o app da Meituan vende também medicamentos, ingressos e até reservas de hospedagem. Ou seja, é praticamente um superapp.
Hoje uma parcela significativa do mercado de delivery de refeições no Brasil está concentrada nas mãos do iFood, após uma série de consolidações nos últimos anos. De acordo com a mais recente edição do Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre o Comércio Móvel, 81% dos brasileiros que compram refeições por app apontam o iFood como seu app favorito para essa finalidade, seguido, bem longe, pelo WhatsApp, citado por apenas 4%.
O mercado brasileiro já foi desbravado e o trabalho de educação de consumidores e lojistas já foi feito pelo iFood. Por sinal, houve um salto durante a pandemia. Entre 2019 e 2024 aumentou de 62% para 89% a proporção de brasileiros que já compraram uma refeição via app. E a proporção de usuários ativos mensais de apps de delivery de comida hoje é de 80% dentre aqueles que já utilizaram o serviço alguma vez.
A concentração de mercado nas mãos do iFood gera um desgaste natural na relação com os lojistas, que reclamam das taxas cobradas, o que abre espaço para a competição. Vale lembrar que o Meituan não é o único a se interessar em brigar com o iFood. Há poucas semanas a 99 anunciou a volta do 99Food.
Controlada pela DiDi, a 99 aposta na força de sua base do app de mobilidade urbana, com 55 milhões de usuários, para crescer no segmento, em um movimento diferente da primeira tentativa, que teve um app dedicado entre 2019 e 2023. E pretende atrair os comerciantes com taxa zero de comissão e sem mensalidade por dois anos, algo que pode trazer uma nova dinâmica ao mercado brasileiro de delivery.
Mas cabe lembrar que a Prosus, controladora do iFood, é também acionista (minoritário) da Meituan, com 4% do seu capital social.
Quem é a Meituan?
O serviço O2O do conglomerado chinês Meituan atualmente está em Hong Kong e na Arábia Saudita. A Meituan se apresenta no mercado como uma “empresa de varejo guiada por tecnologia” e com entrega de comida, mercado e medicamentos, assim como ingressos de eventos e reservas de viagens.
Criada em 2010 e com oferta pública inicial (IPO) feita na Bolsa de Hong Kong em setembro de 2018, a empresa fechou o ano fiscal de 2024 com um lucro líquido de 6,2 bilhões de renminbis (R$ 5,2 bilhões na conversão no final de dezembro), quase o triplo (180%) do resultado de 2023, que foi de 2,2 bilhões de renminbis (R$ 1,8 bilhão).
Importante dizer que esta não é a primeira vez de uma empresa do grupo Meituan no Brasil. Em 2018, a startup de aluguéis de bicicleta Mobike (atualmente Meituan Bike) foi lançada no Brasil. Veio com a promessa de trazer 2 mil unidades de seus veículos para a cidade de São Paulo, mas a iniciativa não deu certo e a operação de mobilidade urbana saiu do país.
Entenda o investimento
A injeção de capital da Meituan faz parte dos aportes de R$ 27 bilhões dos empresários chineses de tecnologia e infraestrutura firmados com o governo brasileiro durante viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país asiático nesta segunda-feira, 12. De acordo com o Palácio do Planalto, o investimento da Meituan gerará 100 mil empregos indiretos e 3 a 4 mil empregos diretos, com um centro de atendimento no nordeste ao longo dos próximos cinco anos.
Com suas palavras, o competidor
Em conversas anteriores deste veículo com o CEO do iFood, Diego Barreto sempre enfatizou o potencial da Meituan: “Primeira vez que sentamos com o C-Level da Meituan, o iFood da China, nós fazíamos na época 30 milhões de pedidos por mês. Falamos para eles de boca cheia dos 30 milhões. O CEO (Wang Xing) perguntou: ‘é por dia’? Quando falamos que era por mês, ele respondeu ‘eu faço 80 milhões por dia”, disse o executivo, em conversa com a imprensa especializada no meio de 2024.
“No final do dia, a Meituan tem a densidade para entregar um pedido de R$ 5, uma Coca-Cola”, comparou. Mas Barreto ressaltou que o sucesso da Meituan não se deve apenas ao tamanho do mercado interno chinês, mas ao fato de a empresa ter trabalhado bem em diversos canais. O iFood tem trabalhado na diversificação de canais. Um deles é o iFood Salão, uma iniciativa inédita da empresa que leva o seu core tecnológico para atender bares e restaurantes nas vendas presenciais, ou seja, indo além das ofertas de serviços financeiros e delivery. Inclusive, o iFood Salão é um dos concorrentes ao Prêmio Seleção Mobile Time. A votação termina na próxima terça-feira, 13.
Imagem principal: Presidente Lula assina acordos entre empresas brasileiras e chinesas em Pequim, China (foto: Ricardo Stuckert/PR)