O aplicativo de rastreamento do NHS (National Health Service, Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido) teve um impacto significativo na redução da disseminação do novo coronavírus na Inglaterra. A conclusão é de um artigo científico escrito por pesquisadores – entre eles, criadores do app – e que será publicado na revista Nature. De acordo com os estudiosos, foram evitados centenas de milhares de casos da doença e milhares de mortes. E, em média, cada caso confirmado que consentia com a notificação de seus contatos por meio do aplicativo evitava um novo caso. A ferramenta enviou cerca de 1,7 milhão de “notificações de exposição” depois que 560 mil usuários do aplicativo testaram positivo, disse o estudo. E os pesquisadores estimam que cada aumento de 1% nos usuários de aplicativos resultou na redução de casos entre 0,8% e 2,3%. O resumo do artigo foi disponibilizado.

A diferença entre esses dois números percentuais se deve ao fato de que a equipe usou duas maneiras diferentes para calcular o impacto do aplicativo.

O primeiro usou uma abordagem de “modelagem”, fazendo suposições sobre a transmissão e como as pessoas ficavam estritamente em quarentena. O segundo envolveu a análise de dados das autoridades locais sobre casos reais. Ambos foram comparados à amplitude de uso do aplicativo para estimar seu impacto.

O artigo cobre o tempo entre o lançamento do aplicativo em 24 de setembro do ano passado até o final de 2020. Ele foi “usado regularmente” por 16,5 milhões de pessoas – cerca de 28% da população do Reino Unido, diz a pesquisa.

Vale lembrar que o aplicativo do NHS funciona usando os sensores de um smartphone para medir a proximidade de um usuário – e por quanto tempo – de outros usuários do app. Se o teste de uma dessas pessoas for positivo para coronavírus, o aplicativo pode emitir um alerta avisando as pessoas que estiveram em contato próximo para se isolarem.

Os pesquisadores disseram que o número de casos evitados foi de 284 mil com a abordagem de modelagem e 594 mil com a estatística. Isso se traduziu em 4,2 mil ou 8,7 mil mortes evitadas, respectivamente.

“No balanço, um tamanho de efeito entre as duas estimativas parece mais provável”, escreveram os pesquisadores.

O artigo também sugere que o app do NHS poderia ter um efeito de conscientização por parte dos usuários de manter a distância maior dos outros do que fariam de outra forma (sem usar o app), pois havia a ciência de que o app monitora a distância entre as pessoas e ainda poderia aconselhar quarentena posteriormente.

Esse fato pode pesar mais para o lado da pesquisa feita a partir das estatísticas do que para a modelagem, segundo os próprios autores do artigo, deixando a estimativa estatística mais precisa.

Vale lembrar que o Reino Unido optou por desenvolver seu próprio app de rastreamento, e não utilizou a solução oferecida por Apple e Google. E que depois solução seria incorporada em seus respectivos sistemas operacionais.

Quando foi lançado, descobriu-se que alguns telefones mais antigos não podiam executar o aplicativo do NHS, e o rastreamento de contato às vezes podia ser impreciso. A solução também enfrentou resistência devido a preocupações de que a funcionalidade de rastreamento pudesse ser acessada de alguma forma pela polícia, o que não acontece.