Todo ser humano é único, não apenas biologicamente, em razão dos seus genes, mas também por conta da sua história, da sua trajetória, do seu conhecimento, dos seus feitos. Pois agora já é possível criar clones digitais de seres humanos, carregando neles boa parte da bagagem de vida e da personalidade da pessoa original. Essa é a proposta da MaxMeAI, uma startup brasileira que acaba de lançar seus dois primeiros clones digitais.
Não se trata de um mero avatar, com uma caricatura ou foto da pessoa original. Também é evitado o termo “gêmeo digital” (“digital twin”, em inglês), porque este ficou associado a soluções para simulações industriais. A opção por chamar de “clone digital” é proposital, para deixar claro que se trata de algo diferente.
O clone digital consiste em uma versão digital daquela pessoa, o que inclui a sua imagem e a sua voz, para reprodução em vídeo ou em áudio, e o mais importante: o seu conhecimento e a sua personalidade, para reproduzir com bastante fidelidade o pensamento, o jeito de se expressar e a concatenação de ideias de quem foi clonado.
“Trata-se de uma forma de democratizar o capital intelectual de algumas pessoas”, resume André Ghion, um dos investidores da MaxMeAI, executivo com mais de 25 anos de experiência em inovação, marketing e estratégia.
A proposta é inspirada no trabalho do filósofo britânico Andy Clark, que cunhou o termo “cognição estendida”, que consiste em entender que a mente não se limita ao cérebro, mas pode ser estendida para o ambiente externo.
Os primeiros clones digitais
A MaxMeAI já produziu dois clones digitais. Ghion foi escolhido para ser o primeiro.
“Mapeamos o meu conhecimento: autores, livros, vídeos que eu vi. Carregamos toda a minha pegada digital. É para ser a minha mente estendida. É uma tecnologia para ampliar a inteligência do ser humano, par além do tempo e do espaço”, compara.
Se desejado, é possível permitir que o clone digital consulte fontes externas de dados, ampliando o seu conhecimento original, e pode ser programado para falar perfeitamente qualquer língua, independentemente da fluência da pessoa clonada. Além disso, é possível definir limites de comportamento, para evitar que tenha reações negativas, por exemplo.
A partir de registros de voz e vídeo, a MaxMeAI consegue reproduzir em imagem e áudio aquela pessoa. Até tiques e manias podem ser incluídos.
Uma vez criado o clone digital, este pode ser disponibilizado para a interação com o público via texto, áudio ou vídeo. O clone de Ghion está disponível para conversar com qualquer pessoa no site www.ghion.ai. No seu caso, a proposta é aproveitar a sua experiência como executivo para ouvir e comentar ideias sobre negócios, como uma espécie de consultor virtual.

Clone de André Ghion durante conversa em vídeo
O segundo clone criado pela MaxMeAI é o do monge budista Hondaku Shaku, no site www.hondaku.ai.
O próximo, que está em construção, será o de José Larrucea, outro fundador da MaxMeAI e executivo com experiência no setor de tecnologia.
Custo, tempo de produção e modelo de negócios
A construção da primeira versão de um clone digital leva pelo menos 60 dias. E a ideia é seguir aprimorando, carregando mais conhecimento, em um trabalho contínuo. São combinadas mais de 20 diferentes tecnologias durante o processo, relatam os fundadores.
No caso do clone digital de Ghion, por exemplo, a versão atual usa um banco de dados com mais de 43 milhões de palavras.
O setup, a curadoria do conhecimento e o desenvolvimento de uma primeira versão custam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil, estima Larrucea. E a manutenção mensal varia entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, dependendo do uso.
A MaxMeAI ainda está avaliando quais modelos de negócios pretende explorar com a tecnologia.
Efeito colateral
A sensação de interagir com o próprio clone digital pode ser estranha a princípio, conta Ghion.
“Passei duas semanas com náusea. Foi uma sensação de estranhamento. É parecido com o efeito Ozempic. Mas depois vem um efeito de deslumbramento e você entende como usar a seu favor”, relata.
Super Bots Experience
José Larrucea, fundador da MaxMeAI, participará do painel “AI native: os novos negócios que nascem com a IA generativa”, durante o 11º Super Bots Experience & Forum de Autoatendimento Digital, evento organizado por Mobile Time que acontecerá nos dais 21 e 22 de agosto, no WTC, em São Paulo.
A ilustração no alto foi produzida por Mobile Time com IA