A era dos apps está longe de acabar, mas ganhou um concorrente promissor. Na semana passada, a OpenAI anunciou uma nova ferramenta: qualquer pessoa, mesmo sem conhecimento de programação, pode construir o seu próprio GPT e disponibilizá-lo para o público. Catálogos extraoficiais indicam que cerca de 2 mil GPTs já foram criados. O caminho natural é que seja lançado no futuro um marketplace, uma espécie de loja de GPTs. Por enquanto, o acesso à ferramenta de desenvolvimento e o acesso aos GPTs criados nela estão restritos aos assinantes premium do ChatGPT.

A própria OpenAI desenvolveu alguns GPTs para servirem de exemplo do poder da nova ferramenta. Esse catálogo é composto por 16 GPTs, listados dentro da opção “explore”, no menu do ChatGPT. Há desde um assistente de dados capaz de analisar planilhas enviadas pelo usuário (Data Analysis), até um chefe de cozinha (Sous Chef) que gera receitas a partir dos ingredientes que enxerga em uma foto tirada de uma geladeira aberta, passando por um criador de desenhos infantis para colorir (Coloring Book Hero), um simulador de negociação (The Negotiator) que ajuda a melhorar sua argumentação em vendas, e um coach de escrita criativa (The Writing Coach) que sugere melhorias em textos de novos escritores. Um dos que mais chama a atenção é o GPT Sticker Whiz, de criação de adesivos, não pelo seu propósito, mas por estar conectado com uma loja virtual de adesivos, a Sticker Mule. O usuário cria o seu adesivo com o GPT e recebe um link para encomendar imediatamente a confecção do mesmo na referida loja online. Isso dá a dimensão de como os GPTs podem ser associados ao comércio eletrônico.

Ferramenta de criação de GPTs

Dentro da aba “explore”, está a ferramenta de criação, intitulada “Crie um GPT”. Ali, o usuário nomeia seu GPT, envia seu ícone, cria uma descrição e, o mais importante, define suas regras – neste caso, usando linguagem natural, ou seja, escrevendo o que seu assistente pode ou não fazer.

É possível configurar o GPT para acessar ou não outras ferramentas da OpenAI para enriquecer as conversas, como o gerador de imagens DALL-E, a navegação na web integrada ao Bing, ou um leitor de códigos de programação.

A ferramenta permite subir uma base de conhecimento, com arquivos do próprio computador do usuário, ou estabelecer limites de busca na web, como uma página específica. Também é possível adicionar ações de integração com sistemas externos.

Diretório

Os GPTs criados podem se tornar públicos ou permanecerem privados, à escolha do seu dono. Caso opte por disponibilizar ao público, o GPT ganha um link para ser acessado. Por enquanto, ainda não é possível buscá-los em um diretório central oficial, mas já foram construídos catálogos de GPTs. Um deles funciona inclusive funciona na forma de GPT: trata-se do “GPT Public Directory”, criado por um desenvolvedor chamado Geoffrey Robichaux. Atualizado recorrentemente, ele afirmava ter 1.778 GPTs listados até esta segunda-feira, 13. Outro diretório está disponível no site topgpts.ai. Neste caso, contudo, seu catálogo depende que os criadores submetam os links e as descrições de seus GPTs em um formulário. Nesta segunda-feira, 13, somava 292 GPTs.

Todo GPT utilizado passa a aparecer em uma lista no ChatGPT do usuário. Ou seja, na prática cada um vai construindo seu diretório pessoal aos poucos.

Análise

É inevitável comparar essa ferramenta com o surgimento, 25 anos atrás, da App Store, loja de aplicativos para iPhone. A App Store deu origem a todo um novo ecossistema digital que dura até hoje e que acabou replicado pelo seu principal concorrente, o sistema operacional Android, do Google, com a Google Play. 

É razoável prever que, mais cedo ou mais tarde, a OpenAI lance uma loja de GPTs. E que integre um sistema de billing a essa loja, permitindo a venda ou mesmo a assinatura para acesso a esses GPTs – e ficando com um revenue share. Estaríamos diante do nascimento de um novo ecossistema digital? São os GPTs os novos apps? Abaixo, estão apontadas algumas diferenças e semelhanças entre GPTs e apps para reflexão:

. A interface dos GPTs é conversacional, com linguagem escrita ou falada. Os apps utilizam interface visual, com botões.

. Apps são baixados e instalados. GPTs são acessados via web por qualquer dispositivo conectado à Internet – computador, tablet ou smartphone. 

. Nos apps, o design visual é um importante elemento de diferenciação. Nos GPTs, isso acontece através do estilo de linguagem (mais formal ou informal) e na personalidade do bot.

. A criação dos GPTs é no-code, enquanto os apps móveis para Android e iOS ainda requerem desenvolvedores. É verdade que existem plataformas que procuram simplificar o desenvolvimento de apps, mas em geral cobram pela sua utilização, sendo voltadas para empresas.

. Apps iOS são restritos a donos de iPhones. Apps Android, a donos de smartphones Android. E GPTs, a assinantes premium do ChatGPT.

. A diferença no tamanho das bases de usuários ainda é grande. Existem bilhões de smartphones em serviço no mundo, contra cerca de 200 milhões usuários ativos mensais do ChatGPT, somando as versões gratuita e premium. A OpenAI não divulga sua base de assinantes premium.

. A chave do sucesso para os GPTs pode estar na integração com apps de mensageria de uso massivo, como WhatsApp, Telegram e Facebook Messenger. Já é possível incorporar um GPT a um bot em qualquer um desses canais, mas isso ainda requer o trabalho de um desenvolvedor.

Vale lembrar que os GPTs nada mais são do que chatbots com inteligência artificial generativa que usam a tecnologia da OpenAI de GPT (generative pre-trained transformer). É provável que outras plataformas low-code de criação de bots sejam lançadas por concorrentes da OpenAI.

Por fim, cabe comentar que os GPTs não vão matar os apps. Dependendo da aplicação e do contexto de uso, pode fazer mais sentido uma interface visual de botões ou uma interface conversacional. A tendência é de que bots e apps convivam e se complementem.