Ilustração: Cecília Marins

A Alphabet espera pelo terceiro trimestre de 2022 com obstáculos e incertezas na macroeconomia, coloca freios nas contratações e foca no núcleo duro de seu negócio, como produtos baseados em nuvem e inteligência artificial. Em conversa com analistas do mercado financeiro nesta terça-feira, 26, Ruth Poirat, CFO da companhia, citou um recuo na receita com publicidade no YouTube e na rede de publicidade do Google na comparação trimestre a trimestre.

“A retirada de gastos por parte de alguns anunciantes no segundo trimestre reflete em incerteza sobre uma série de fatores que estão desafiando a desagregar. Em outras receitas, nós esperamos obstáculos contínuos, com mudanças de fee e redução de compra”, explicou a executiva, sem revelar quanto deixaram de investir e nem em quais setores. “Nós usamos o termo ‘incerteza’, pois é o melhor para caracterizar esse momento. Há problemas em diversas indústrias, como em supply chain e estoque. E tem a guerra (Ucrânia x Rússia)”, completou.

Além da preocupação com a receita de publicidade no YouTube e em buscas, Poirat afirmou que esperam por impactos nos ganhos operacionais de fora dos Estados Unidos, uma vez que o dólar está mais forte que moedas estrangeiras. Vale lembrar que recentemente o euro chegou ao patamar de paridade (1 para 1) com o dólar. Ainda assim, a chefe financeira da Alphabet explicou que o resultado não afeta o lucro geral, uma vez que grande parte da receita e dos investimentos em desenvolvimento e pesquisas são contabilizados em dólar.

Contratações

Poirat explicou ainda sobre a recente decisão da empresa de reduzir o ritmo de contratação de novos funcionários até o final do ano: “10,1 mil profissionais foram contratados no segundo trimestre, a maioria para posições técnicas. Dada a incerteza na economia global e o progresso que atingimos recentemente, como nós anunciamos, pretendemos reduzir o ritmo de contratação. Nós esperamos que nossas ações em contratação vão aumentar apenas em 2023”, disse a CFO.

Poirat afirmou que as contratações no terceiro trimestre focarão nos compromissos do Google, como a entrada de recém-formados e busca por profissionais para posições críticas, como engenheiros e técnicos. Recorda ainda que a aquisição da Mandiant será concluída até o final de 2022 e que isso isso adicionará mais funcionários.

De acordo com o relatório do segundo trimestre de 2022 divulgado nesta terça-feira, o Google tinha 164 mil funcionários, 17% mais que 140 mil de um ano antes.

Foco

Para Sundar Pichai, CEO da Alphabet e do Google, os obstáculos e as incertezas são uma oportunidade para “aguçar o foco” e serem mais “disciplinados” com os gastos. Com isso, o executivo quer manter e focar os investimentos em áreas que garantem o futuro da companhia, como inteligência artificial e computação em nuvem.

“Nós estamos investindo pesado em inteligência artificial para ser usada em áreas como YouTube e na Busca. Dito isso, estamos priorizando nossos recursos para a melhoria de produtos que precisam fluir em um momento de incerteza. Isso é aguçar o foco para mim”, afirmou Pichai.

Nesta estratégia, Poirat confirmou que o Capex de 2022 será superior a 2021, uma vez que a empresa seguirá investindo especialmente em servidores e pesquisa e desenvolvimento para inteligência artificial. Como exemplo, a CFO falou que cloud está em seus primeiros passos e crescendo com a entrada de empresas que começam a se digitalizar. A executiva lembrou que, pela primeira vez, o Google Cloud registrou uma receita superior a US$ 6 bilhões no segundo trimestre deste ano.

“Quando falamos de oportunidades com inteligência artificial, nós temos visto o avanço em multibusca, com mais e mais pessoas usando voz e visão computacional para fazer buscas. Igualmente, em publicidade e no Google Marketing Live, o nosso time fala bastante dos valores que IA traz para os anunciantes. Em nuvem, nós veremos mais avanço em data analytics nos próximos anos. Mas também teremos oportunidades mais amplas no caminho”, concluiu o CEO.