As mensagens que enviamos, os e-mails escritos, as conversas que temos – sejam elas no mundo físico ou no virtual –, as buscas que fazemos nos browsers ou aplicações, tudo, tudo o que fazemos está sendo observado. E, óbvio, dados são coletados. O que digitamos, como digitamos, os assuntos que procuramos servem de insumos para que um algoritmo decida os anúncios que vamos ver ao longo da nossa jornada pela Internet e pelos aplicativos que abrimos.

Só porque você não recebe a cobrança de sua conta de email não significa que ela seja gratuita. Você paga permitindo que o provedor minere suas mensagens em busca de dados que, entre outras coisas, ajudem a direcionar os anúncios.

Começo a tentar mudar meu rumo nessa história de entrega-o-dado-e-recebe-algo-em-troca. Mas essa história não começou hoje. Nos idos de 2015, abri uma conta no ProtonMail (Android, iOS), aplicativo de email gratuito suíço com criptografia. A aplicação armazena seus dados usando criptografia de acesso zero, o que significa que ninguém além de você pode acessar suas mensagens. E, quando duas pessoas com ProtonMail se comunicam, elas obtêm criptografia de ponta a ponta.

A questão é que abri a conta e nunca usei. No auge do Gmail, com todos os meus contatos por lá, ficava difícil mudar de endereço. Mas, com as questões sobre privacidade em voga, resolvi voltar ao ProtonMail. E estou satisfeita.

O app é gratuito, mas é possível pagar para destravar algumas ferramentas. No momento, uso a versão gratuita, que me dá direito a 500 MB de armazenamento, um endereço, o envio de 150 mensagens por dia e três folders. É estranho isso para quem tem o Gmail, certo? Mas é assim que funciona quando seus dados não estão na balança. A versão paga (plus) oferece mais armazenamento (5GB), cinco endereços, a possibilidade de mandar 1 mil e-mails por dia, 200 folders e um domínio personalizado. Custa 5 euros/mês ou 48 euros/ano.

Com o ProtonMail é possível mandar mensagens com senhas para as pessoas, mesmo que elas não usem o webmail. No caso, a pessoa recebe o email e precisa ter o código para destravar a conversa. Ela é enviada para uma página do ProtonMail para digitar a senha e ler a mensagem.

É possível também enviar mensagens que expiram com o tempo – podendo durar por 28 dias ou horas. O recurso é interessante e me faz acreditar que eles estão realmente valorizando a privacidade de seus usuários.

Como nem tudo são flores, a equipe do ProtonMail retirou recentemente de sua política de privacidade que a empresa, por padrão, não mantém logs com o endereço IP e outras informações dos clientes armazenadas. Isso porque, recentemente, a empresa compartilhou o endereço de IP de um ativista francês com autoridades daquele país. Vale dizer aqui que o ProtonMail cumpriu uma ordem judicial feita à polícia suíça, por meio da Europol.

Mas, ainda, sim, como não pretendo violar nenhuma lei para que meu email seja requisitado pela justiça, acredito que o ProtonMail ainda quer a minha privacidade.