O Banco Central autorizou a realização de compras com cartões de crédito, débito e pré-pago no WhatsApp (Android, iOS), inicialmente para as bandeiras Mastercard e Visa. O fim de todas medidas coercitivas que impediam essa oferta foi anunciado pela autarquia nesta quinta-feira, 2. Entretanto, o BC determinou que as bandeiras avisem a todos os participantes dos seus arranjos de pagamento sobre o início dessa operação com antecedência mínima de 30 dias.

A liberação para compras acontece quase dois anos após o BC autorizar transferências entre usuários finais com cartão de débito via WhatsApp. As transações P2P dentro do app de mensageria, contudo, nunca decolaram, ofuscadas pelo sucesso do Pix. De acordo com a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria móvel no Brasil, somente 8% dos usuários ativos mensais do WhatsApp costumam enviar dinheiro pelo aplicativo.

Repercussões

Em seu canal no Instagram, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, comemorou a aguardada liberação: “O BC brasileiro acabou de autorizar o lançamento do nosso novo meio de pagamento. Uma funcionalidade que permitirá a muitas pessoas pagar para pequenos estabelecimentos diretamente no WhatsApp. Estou empolgado com este lançamento que sairá em breve”, disse.

No Twitter, os executivos do WhatsApp e da Meta também comemoraram a aprovação. A líder de comércio, fintech e Web3 na Meta, Stephanie Kasriel, lembrou que a companhia priorizou um modelo aberto e estão testando o modal com diversos parceiros. E Will Cathcart, head do WhatsApp, afirmou: “Em breve, os brasileiros estarão aptos a buscar produtos, adicioná-los no carrinho e pagar com segurança em pequenos negócios direto da janela de conversa. Com cartão de crédito ou débito. Vambora!”.

Guilherme Horn, head do WhatsApp para a América Latina, escreveu em seu perfil no LinkedIn que a empresa está terminando de realizar os testes. “Cumpridos todos os passos regulatórios, estamos finalizando os testes que temos conduzido com parceiros como Cielo, Fiserv, Getnet Brasil, Mercado Pago e Rede. Em breve, os usuários do WhatsApp poderão pagar por produtos e serviços diretamente em uma conversa com cartões de débito e crédito Mastercard e Visa. Esperamos compartilhar mais com vocês em breve!”

Para Mobile Time, a Visa disse que recebeu com entusiasmo a notícia do BC: “A Visa acredita no potencial da solução como impulsionador da inclusão, da digitalização e do desenvolvimento de milhares de micro, pequenas e médias empresas brasileiras e está trabalhando no lançamento do serviço junto com a Meta e credenciadores participantes. O Pagamento no WhatsApp utiliza o Visa Token Service, tecnologia que substitui os dados da credencial, como o número de conta e a data de validade do cartão, por um identificador digital único (um “token”) que pode ser usado para fazer pagamentos sem expor informações sensíveis de uma conta.”

Vale dizer que o modelo de negócios ainda não foi revelado, nem maiores detalhes sobre os custos para os lojistas que aceitarem esse tipo de pagamento. No P2P, o prestador de serviço de adquirência é a Cielo.

Leia a íntegra da nota do BC:

“O Banco Central (BC) decidiu, nesta quinta-feira (02/03), pela cessação completa das medidas coercitivas aplicadas à Mastercard Brasil Soluções de Pagamento Ltda (Mastercard) e à Visa do Brasil Empreendimentos Ltda (Visa) que haviam suspendido a realização de transações de pagamento por meio do aplicativo de mensagens WhatsApp (Programa Facebook Pay) com o uso dos arranjos de pagamento de propósito de compra (P2M) e de propósito de transferência (P2P) desses instituidores.
Dessa forma, não há mais impedimentos regulatórios para a realização de transações de compra com cartão de crédito, de débito e pré-pago por meio do WhatsApp (P2M). Essa nova funcionalidade se junta à realização de transferências de recursos entre usuários desse aplicativo, autorizada em março de 2021 (P2P).
Destaca-se que, mesmo após a implementação em produção do Programa Facebook Pay, a adesão de novas instituições interessadas (credenciadores ou emissores) em participar da solução de pagamento deverá permanecer aberta. Além disso, em respeito aos princípios regulatórios relacionados aos aspectos concorrenciais e de não discriminação, o BC determinou que o início das transações de pagamento em produção por meio do aplicativo WhatsApp deve ser comunicado pelos instituidores a todos os participantes de seus arranjos de pagamento com antecedência mínima de 30 dias.”

Análise

Ao longo dos últimos anos, especialmente durante a pandemia, diversos varejistas adotaram meios de vender através do WhatsApp, pois o app se tornou um importante canal de relacionamento com o consumidor. O pagamento nessas soluções contudo, não é “nativo”, ou seja, não acontece dentro do aplicativo. Em geral, é enviada uma mensagem com um link de pagamento, que leva o consumidor para fora do WhatsApp, abrindo uma página em um browser, aonde ele precisa informar os dados do seu cartão ou realizar um Pix para efetuar o pagamento.

Com a autorização do BC, a experiência de compra via WhatsApp será facilitada porque passará a ser nativa. O usuário poderá cadastrar previamente um cartão dentro do app e realizar compras com um clique, sem sair do mensageiro.

Vale lembrar que 80% dos usuários ativos mensais (MAUs) do WhatsApp se comunicam com marcas e empresas pelo app. E 60% dos consumidores móveis brasileiros já fizeram encomendas de produtos e serviços pelo WhatsApp. Os dados são das pesquisas Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre comércio móvel e sobre mensageria móvel no Brasil.

Histórico

O Facebook anunciou a chegada do WhatsApp Pay ao Brasil em 15 de junho de 2020. Oito dias depois, o BC decidiu proibir o serviço, alegando que carecia de autorizações de sua parte. E, na mesma data, o Cade suspendeu o acordo entre Cielo e Facebook, com o argumento de que haveria risco de “danos irreparáveis” ao mercado, em razão da liderança da Cielo no setor de adquirência. Mais tarde, o Cade voltou atrás e liberou o acordo.

Enquanto o WhatsApp Pay aguardava autorização, o Brasil assistiu ao lançamento do Pix, sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo BC e de oferta obrigatória pelos grandes bancos que atuam no País. É provável que o WhatsApp Pay, agora liberado, venha a se integrar ao Pix também.

Em março de 2021, o WhatsApp Pay foi liberado apenas na modalidade de transação entre pessoas (P2P). Na época, o Facebook foi aprovado como “Iniciador de Transações de Pagamentos”.

Já em novembro de 2022, a Visa recebeu autorização do regulador para alterar seu arranjo de pagamentos e adicionar a possibilidade de compras por cartão de crédito, débito ou pré-pago dentro do WhatsApp, em um ensaio prévio da autorização desta quinta-feira.