Um levantamento feito pelo Mobile Time mostra que os principais bancos e operadoras do Brasil já garantiram seu espaço dentro da nova rede social da Meta, o Threads (Android, iOS). Mas a maioria das ações dessas empresas na plataforma de Mark Zuckerberg são tímidas, com poucas publicações, e isso reflete em algumas centenas de ‘curtidas’ no conteúdo dos seus usuários, sem sequer chegar aos milhares em nenhuma delas – ao menos até o fim desta reportagem.

  • A TIM entrou na rede com uma postura mais leve e convidativa que o seu canal no Twitter, e com postagens quase que diárias;
  • Tão ativa quanto a rival, a Claro mistura propagandas de TV, campanhas de seus produtos (como Taylor Swift com o Claro Música) e piadas;
  • Mais tímida, a Vivo usa o Threads para se relacionar com o internauta e aproveita o carisma de sua nova garota-propaganda, a atriz Taís Araújo – embora com apenas dois posts até aqui;
  • Entre as instituições financeiras, as estatais Banco do Brasil e Caixa aderiram, mas não publicaram nada até agora;
  • Assim como a Vivo, o Bradesco usa o carisma de um parceiro, o DJ Alok, para alavancar as postagens no Threads, mas também só fez um post. Coincidência ou não, Alok era o garoto-propaganda da operadora até Taís Araújo assumir o posto neste mês de julho;
  • Santander tem três publicações aleatórias que tentam conversar com o público, mas não relacionadas entre si;
  • O Itaú também está com uma estratégia tímida, com apenas três publicações focando em campanhas e relacionamento com o cliente;
  • Nubank tem quatro publicações com amenidades e todas foram na primeira semana do Threads, depois disso não avançou mais;
  • E o banco Inter também parou de postar mensagens depois da primeira semana.

Na terceira e última parte do especial sobre Threads, esta publicação conversou com os especialistas de tecnologia e marketing digital sobre as possíveis formas de comunicação nessa rede social e sobre como a plataforma pode evoluir, uma vez que está atrelada diretamente ao Instagram, que tem seu enfoque em imagens e vídeos.

Vale lembrar, as outras duas partes desta sériel já foram publicadas. A primeira com o impacto da chegada do Threads no Brasil e a segunda com o crescimento na web mundial, competição com rivais e os possíveis impactos no modelo de negócios da Meta.

Experimentar é a chave

Fernando Moulin, sócio da SponsorB e professor da ESPM, acredita que as empresas ainda estão conhecendo a nova rede social e o comportamento de seus usuários. Em sua visão, a entrada do Threads pode levar empresas a se posicionarem de diferentes formas: “Nas primeiras conversas que tive, tem gente que vê o Threads como um Linkedin. Outros querem usar como Instagram (mais plástico). Alguns realmente estão pensando em um reset, uma nova forma de comunicar com o internauta. Outros querem só se divertir em uma rede nova, conhecer e tirar todo o peso das anteriores”, explicou.

O executivo explica que, embora as empresas estejam desenvolvendo linhas de comunicação, a forma de se relacionar dependerá de como as pessoas usam o Threads, mas também dos algoritmos de moderação, algo que pode ser “mais rígido” na Meta que no Twitter. Mas as regras ainda não são claras: “Talvez a experimentação coletiva traga novas ideias”, completou.

Adam Mosseri, head do Instagram – que passou a última semana falando todas as ferramentas que não foram apresentadas neste lançamento light – adiantou que o Threads será mais sobre “o tipo de conversa pública” que queremos ter: “Se você quer engajar em mais (conversas públicas) com idas e vindas, o Threads faz sentido. Do contrário, o mais provável é o Instagram”, completou.

 

Post by @mosseri
View on Threads

 

Reset

Por sua vez, Ricardo Cavallini, CEO da Makers, acredita que o Threads surge como “um reset do Twitter”, algo que enxerga como “uma vantagem” para empresas se relacionarem com o usuários “do zero”, em uma maneira e linguagens mais próxima, como era no começo do Twitter. Mas, assim como Moulin, o especialista está preocupado com o impacto dos algoritmos da Meta, que são mais voltados a adquirir e reter o usuário, em sua visão.

Cavallini também acredita que esse primeiro impacto com mais de 100 milhões de usuários deve diminuir, uma vez que muitos dos consumidores que entraram no Threads eram usuários do Instagram, em especial pessoas que não estavam acostumadas com o Twitter. Por outro lado, o CEO da Makers acredita que os usuários que se afastaram ou saíram do microblog nos últimos anos vão “se reanimar e voltar”, agora nessa nova rede textual.

Voltar ao básico

Léo Xavier, CEO da Môre, acredita que em algum ponto o Instagram vai adicionar funções imagéticas ao Threads. Mas também acredita que haverá espaço para integrações com o WhatsApp e outras formas de conversa, inclusive com robôs de conversação: “A Meta fez a plataforma em uma dinâmica pervasiva para os bots. Eles podem conviver com WhatsApp e Instagram. Teremos zonas de conversas ali e provavelmente integradas com as outras plataformas”, disse.

Essas integrações permitirão uma dinâmica de conversação e relacionamento dos consumidores com as marcas de forma “leve e rápida”, prevê Xavier, e com uma convergência muito grande. Ainda assim, o executivo enfatiza que é preciso ter um aprendizado, pois o Threads não será simplesmente um ‘copia e cola’ das ações no Twitter.

“As marcas vão ter que pensar o que vai ser esse canal. Nós vamos voltar ao Twitter dos bons e velhos tempos? Vai ser a experiência de pensamento positivo do Instagram, com momentos memoráveis? Ou vai ter polarização? Texto é mais pensado. Qual o comportamento vamos transportar para lá? Mas não vejo como o ‘balcão de reclamação de marcas’ ou SAC 2.0 que virou o Twitter”, pontou o profissional da Môre. “As empresas precisam conversar com seus times de social media, pensar e testar cenários de engajamento. É hora de aprender e errar Porque o Threads começou com grande relevância”, completou.

Ao consumidor, o novo

Já Daniel Simões, general manager da MoEngage na América Latina, acredita que a chegada do Threads é diferente para a publicidade digital, pois o segmento está mais maduro ante o começo das redes sociais duas décadas atrás. Afirmou que o consumidor também está mais maduro. Ressaltou que as primeiras ações publicitárias começam a surgir, seja com a apresentação de produtos ou uso de influenciadores para atrair mais usuários aos canais das empresas.

Sobre o tipo de conteúdo que o será preparado para o Threads, Simões acredita que o mercado de publicidade digital está em “um movimento pendular.” Ou seja, saiu do texto, foi para a imagem e agora é vídeo: “O próprio Instagram quatro anos atrás não tinha stories e vídeos, só fotos”, disse.

“A plataforma do Threads é menos engessada. Portanto, a Meta e os criadores de conteúdos estão mais preparados para acompanhar as tendências do mercado. Desse modo, acredito que não ficará parado em campanhas de vídeo ou só texto. Poderemos misturar os conteúdos”, completou.